12 de junho de 2009

Agostinho da Silva revisitado

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V.M.- Qual a razão de tanto intelectual português, de tanto homem notável, ter sofrido em Portugal destinos tão duros?
A.S.- Destinos de que as pessoas se esquecem quando celebram os centenários e fazem festas, mas quem faz a festa são os mesmos que, cem anos atrás, os teriam tratado da mesma maneira e se os saúdam, agora, é porque essas figuras estão garantidas como depósito a prazo com juros agradáveis.
Como é que a coisa sucede? [...]
Todos nós pensamos como teria sido feliz, em França, Alexandre Herculano, com a Legião de Honra e tudo. Conforme sucederia a Camilo ou a Antero, mas em Portugal foram batidos. Sim, eles teriam sido gente grande lá fora, as sociedades são simples ao passo que a sociedade portuguesa, o povo português, é extremamente complexo.
Eu costumo dizer que os povos se dividem em duas grandes raças: a raça do "ou" e a raça do "e" - isto "ou" aquilo, bom "ou" mau, desejável "ou" não desejável, etc. Mas o português é o povo do "e" - uma coisa "e" outra coisa, conforme as ocasiões, os amigos com quem está, etc.
Então o intelectual vê-se muito atrapalhado, pois o intelectual é um sujeito que tem de ser racional e directo. É um matemático disfarçado e o português não vai por essas coisas da matemática disfarçada.

Victor Mendanha, Conversas com Agostinho da Silva

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