18 de maio de 2009

Fernando Savater: autobiografia

... e porque ontem encontrei no blog de um colega a divulgação do livro que tanto apreciei, tendo a minha edição uma capa mais apelativa, lembrei-me de divulgar a obra deste professor de Ética na edição lida há dois anos. Caso venha a despertar interesse, encontra-se numa livraria de um centro comercial lisboeta que vende livros em castelhano (não existindo ainda em tradução nacional). Como por vezes encontramos pontos comuns com autores e personagens - explicação pessoal para me ligar tanto a alguns livros e filmes - serve igualmente a transcrição biográfica para agradecer à T. o livro que tão bem seleccionou para me oferecer (até parece que adivinha...) (:

Image and video hosting by TinyPic

À tarde e ao regressar do colégio, bem como em dias festivos, era o meu lugar de eleição para ler. Sou dos que lêem horizontalmente: para mim um divã não me faz lembrar o psicanalista, mas um bom romance policial e, quando olho para uma cama, a primeira coisa que procuro é a lâmpada de leitura na mesa de cabeceira. No escritório, havia uma mesa de sala junto a um sofá de tamanho ideal para ficar em companhia de Salgari ou Karl May. Ia para lá sempre que possível, afastado dos meus irmãos, tão estimados quão barulhentos, bem como da obsessão materna em vigiar as minhas tarefas escolares: «Não leias, estuda!». Naqueles tempos, não como agora sucede, nós, miudagem, tínhamos bem clara a distinção entre ler e estudar… recordo o escritório como um lugar silencioso, decorado com um tapete espesso de cor cinzento-pérola e um candeeiro de pé convenientemente disposto, iluminando as páginas e respeitando a penumbra. Ali passei horas apaixonadas de cujo encanto ainda me alimento. De vez em quando, uma visita inoportuna expulsava-me do meu modesto paraíso, outras vezes chegava, inexorável, a hora do banho antes do jantar: resignava-me sentindo que a interrupção do júbilo fazia parte do próprio júbilo.

Fernando Savater,Mira Por Donde – Autobiografia razonada , Taurus [2003] (tradução livre para este post)

A primeira parte ocupa-se da infância em San Sebastián, a etapa mais feliz da sua vida, que decorre até aos 12 anos quando a família se muda para Madrid. A segunda recolhe as memórias de adolescência e juventude, até à morte de Franco quando Savater tinha 28 anos. A terceira parte vai até aos nossos dias, centrando-se no seu compromisso político, pois «fazer política quando a democracia se encontra ameaçada é obrigação de uma sã consciência». O autor apresenta os seus gostos, afeições e preferências, porque como afirma «estamos unidos a este mundo pela vida por tudo o que aprovamos, não pela nossa capacidade de detestar». As leituras de infância, as corridas de cavalos, os filósofos que sempre o acompanharam ou os locais e as pessoas que ama formam parte desta história.
(tradução parcial da contra-capa)

Seguem-se duas fotografias de entre muitas das apresentadas nas últimas páginas:

Image and video hosting by TinyPic Image and video hosting by TinyPic

Legenda da 1ª imagem: «memorabilia da minha passagem pelo cárcere de Carabanchel. A autorização dos censores para ler Espinosa.»
Legenda da 2ª imagem:«o dia em que conheci Jorge Luís Borges, no colégio argentino da Cidade Universitária de Madrid. Quatro poetas e um não se sabe o quê. Enquanto nos perfilávamos para a fotografia, Borges empenhava-se a declamar ininteligíveis fragmentos de sagas islandesas e quando insinuávamos que bem podia estar a tomar-nos por idiotas, respondia, sorridente: "é possível, é possível..." »

Sem comentários: