12 de maio de 2009

COISAS DO SÓTÃO

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Há meia dúzia de anos houve a tentativa de encafuar a Feira do Livro num qualquer espaço fechado. Caiu o Carmo e a Trindade e, felizmente, a ideia não avançou.
Na Feira do Livro de 2004 as editoras Afrontamento, Antígona, Assírio & Alvim, Climepsi, Cotovia, Gótica, Meribérica-Liber, Relógio D’Água, Teorema, publicaram um livrinho, “em defesa da localização da Feira do Livro de Lisboa no Parque Eduardo VII”, em que reuniram um conjunto de textos de autores como António Barreto, Eduardo Prado Coelho, Hélia Correia, João Paulo Cotrim, Frederico Lourenço, Jorge Silva Melo, Jacinto Lucas Pires, Manuel Portela, José Salvador, José Ruy, Mário de Carvalho, um poema de Carlos Drummond de Andrade, uma citação de Bernardo Soares do “Livro do Desassossego", outra do “Mar da Prata” de Jorge Luís Borges.
Todos referem o carácter manifestamente solar, festivo, primaveril, dos livros no Parque. Mas ele não resiste a respigar qualquer coisinha dos textos da Hélia Correia, do Jorge Silva Melo, do Mário Carvalho, personalidades de que gosta mesmo muito:

Hélia Correia: “Temo às vezes que as árvores não pensem bem dos livros, que neles se vejam mortas. Depois lembro que os próprios seres humanos se consolam, prevendo as flores que hão-de nascer das suas cinzas. Posso então concluir tranquilamente que, quando as duas criações, plantas e escrita, ocupam um só espaço, isso se faz em pleno assentimento e harmonia.”
Jorge Silva Melo: “E um dia gostava de filmar, porque, porque não filmar a descoberta do amor entre um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em Maio, no Parque Eduardo VII
Mário de Carvalho: “Tenho estado em salões, por essa Europa. Salões, salas grandes, com o seu quê de fábrica e hangar. Em parte nenhuma há esta cor, esta brisa, este céu, esta extensão clara, esta alegria. Mude-se o que houver a mudar. O espaço, deixar estar.”

No próximo domingo a Feira do Livros fecha os taipais. Se ainda não foi lá, não deixe de o fazer. Mesmo que não vá para comprar nada. Olhe os livros, mexa-lhes, leia uma ou outra passagem, pode ser até que encontre alguém que não vê há muito. Por fim, pode olhar aquela nesga de rio ao fundo e não se esqueça de sentir o roxo dos jacarandás.
Boa feira. Bons encontros.

1 comentário:

T disse...

Eu gostava de ver a feira num jardim plano:)
Mas depois de subir gosto da vista.