12 de maio de 2009

A Beat Generation: Ferlinghetti

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A beat generation é formada por um pequeno grupo de escritores americanos dos anos 50, com especial destaque para os poetas que divulgaram a chamada beatnik poetry, com um estilo personalizado, fechado numa gíria muito particular com notórias influências do jazz.
Estes escritores exteriorizavam o seu aniquilamento ("beat") pois não acreditavam no sucesso fácil, lutando pela sobrevivência do quotidiano. Viajavam constantemente à boleia (foi Kerouac a utilizar pela primeira vez a expressão que lhes deu nome)como resultado de uma permanente inquietação.
Os poetas beat, como Gregory Corso (Gasoline, 1958), Lawrence Ferlinghetti (A Coney Island of the Mind, 1958), Gary Snyder (Riprap, 1959) tentaram libertar a poesia de academismos, procurando trazê-la para a rua. Acreditavam que os versos deveriam ser traduzir só a espontaneidade, sem serem sujeitos a planificações ou estruturas pensadas.

(consulta: E-dicionário de termos literários)

Lawrence Ferlinghetti, o único poeta vivo desta geração de escritores, vive em S. Francisco, tendo completado 90 anos no passado mês de Março.

DOIS VARREDORES DE RUA NUM CARRO DO LIXO, DOIS RICAÇOS NUM MERCEDES
Esperando a luz verde no sinal
centro de São Francisco, nove da manhã
um brilhante carro amarelo do lixo
com dois homens de impermeáveis vermelhos
pendurados de cada lado do estribo traseiro
olhando para um elegante casal
num elegante Mercedes conversível
O homem
vestindo elegante fato de linho de três peças cabelos louros até os ombros & óculos escuros
A jovem negligentemente penteada
saia curta e meias coloridas
a caminho de seu escritório de arquitectura
E os dois varredores acordados desde as Quatro
da Madrugada
sujando-se ao longo do trajecto
desde as suas casas
O mais velho de cabelos crespos grisalhos
e corcunda
olhando para baixo como um
Quasímodo carrancudo
O mais jovem
também de óculos escuros & cabelos longos quase da mesma idade do condutor do Mercedes
Os dois varredores olhando fixamente
como para uma longa distância
o descontraído casal
como se assistisse a algum inodoro anúncio de TV
onde tudo é sempre possível
E a luz vermelha por um instante
manteve os quatro juntos na mesma cena
como se afinal alguma coisa fosse possível entre eles
através daquele grande golfo
nos altos mares
desta democracia

4 comentários:

Miss Vee disse...

Só o título dá logo para imaginar uma voz arrastada e cadenciada a cortar a penumbra ao som daquelas baquetas que parecem vassourinhas.

teresa disse...

:)
E cingi-me ao verbete do e-dicionário o que me levou a não mencionar o "guru", ou seja, Allan Ginsberg... apesar de ser o Ferlinghetti o favorito. Parece que ainda tem energias para gerir uma livraria pessoal em Frisco:)

teresa disse...

Sorry: Allen

gin-tonic disse...

Caramba! Há quanto tempo não punha os olhos no Ferlinghetti..
Há horas felizes.
Um abraço