9 de abril de 2009
SÍTIOS POR ONDE ELE ANDOU
O Verão deixa-o em estado lastimoso. Agosto então coloca-o à beira de um ataque de nervos. Sente-se fragilizado e não responde bem a nada. Lembra o pai: em Setembro voltamos a ser gente.
Acenam-lhe com uma chanfana legítima para os lados da Lousã, e ele que nem morre muito de amores por isso, não hesita e arranca, talvez o passeio, talvez a conversa, talvez o tintol o retirem do estado lastimoso em que Agosto o coloca.
O petisco caiu bem, os convivas “five stars”, e havia, como entrada, um bacalhauzinho assado na brasa, com muito alho e azeitinho da região, adicionou-lhe umas azeitonas, um pedacinho de queijo e à chanfana já não se chegou, fica para a próxima…
Caía a tarde quando alguém lembrou que podíamos ir às festas da Pampilhosa da Serra, matar uns fininhos, saborear o calor tépido da noite. Poderia ter ficado por ali a ouvir o silêncio da noite, as rãs a coaxar no ribeiro que corre junto à casa, mas as senhoras faziam questão e ele não gosta de ser desmancha-prazeres, já chegava ter-se baldado à chanfana…
Apanhou-se enfiado numa salgalhada de todo o tamanho, sem saber ler nem escrever viu-se no meio de um concerto do Tony Carreira, uma onda de histeria, gente que tinha vindo, de quase toda a parte, em camionetas, jovens, acima de tudo muitos jovens, a saberem de cor as canções do Tony.
Enfiou-se junto à carripana das farturas, olhou o triciclo do algodão doce, crianças com balões, o som dos carrinhos de choque, a festa, a festa à portuguesa no meio de um Portugal que é isto mesmo. Um mundo simples de gente simples e simples prazeres a ouvir em deleite Tony Carreira, “o povo da SIC”, como diz alguém, ajavardado q.b. a cantar em coro lembro-me de uma aldeia perdida na beira, a terra que me viu nascer lembro-me de um menino que andava sozinho, sonhava vir um dia a cantar cantigas de amor, tu pensas que eu não choro porque não me vês chorar, vou deixar-te louca carinha laroca.
Embasbacado ficou a olhar o fogo de artifício que se soltou após o termo do concerto, após já não lembra quantos “encores”.
Ao outro dia foi o regresso a Lisboa após o pequeno-almoço, uma mesa montada no alpendre, pão caseiro, mel puro, café, negro e forte para que os vapores da noite se desfizessem de todo.
A 30 ou 40 kms depois da Pampilhosa da Serra, a caminho de Lisboa, à beira da estrada, o café de aldeia que a foto mostra, mais à frente, meia dúzia de quilómetros a placa de estrada que anuncia outra aldeia.
Sorri. Apetecia-lhe por ali ficar, voltar a Lisboa só quando o Verão terminasse. Tentar perceber aquelas gentes do Portugal profundo e real, que se enfiam em camionetas de excursão, com camisolas estampadas com a cara do Tony, para ouvi-lo gritar “Porque vêm aqui?”
Tony que os guia até meio do caminho e depois os deixa sozinhos com a sua cara estampada nas camisolas. Gente que não será o rosto do futuro deste país, as suas vidas sem sentido, sem profundidade, sem importância…
Talvez desse uma tese de mestrado.
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2 comentários:
gin... lindo! ;) :) (grande sorriso)...
isto é o meu mundo.... :)
digo eu, aqui de fajão
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