24 de abril de 2009

Isto anda tudo mudado...

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Tendo andado ultimamente a escrevinhar um texto sobre “Cidadania, justiça e igualdade na escola" esbarrei de modo inesperado com as seguintes notícias de jornal, indissociáveis da área de estudo:
1)- “Três alunos de Penacova condenados a trabalho comunitário após participação em protesto ”. (Público online, 22/4/09)
Convém aqui acrescentar que os alunos, ordeiramente, tentavam tornar público o repúdio contra a legislação que afecta o seu quotidiano escolar. Será ainda importante referir que o grupo era formado por jovens com aproveitamento e comportamento sem nada a apontar. Não tenho nada contra o trabalho comunitário, neste caso tarefas de limpeza na escola, desde que os actos assim o justifiquem, o que parece não ser o caso, ou será que posicionar-se criticamente passou a matéria de penalização?
2)- “Cacém: aluno de 17 anos esfaqueia colega de 15”. (Público online, 23/4/09)
Segundo a mesma fonte, tratou-se de uma rixa entre grupos rivais, tendo o aluno mais jovem ficado com um golpe na zona da omoplata, o que fez com que fosse conduzido ao hospital.
Como reavivei a memória – já o suspeitava, mas é sempre bom confirmar… – que exercer a cidadania é “intervir pessoalmente e na esfera pública para defender o seu ponto de vista, deliberar com os outros, organizar a resistência ao poder político do momento” (Claudine Leleux) e tendo também constatado que o sucedido em Penacova – protestaram e foram castigados – e o que provavelmente não virá a suceder no Cacém (Mira Sintra), pois dou aulas há uns anitos e, situações como a da rixa com faca levarão provavelmente a uns dias “de férias” designados por “suspensão", perante situações como as destes “dois pesos e duas medidas”, não posso deixar de, cada vez mais, me sentir outsider, questionando, cada vez mais, o conceito de normalidade.
Para quem não saiba, em caso de procedimento disciplinar dentro da escola - em zonas de tecido social complexo, nem imaginam o que chega a suceder, não deixando o receio de muitas chefias locais que a informação passe os muros dos estabelecimentos - são os professores que, de acordo com a legislação em vigor, fazem de advogados, ouvindo as partes envolvidas. Já me aconteceu, num passado recente, ter sido “diz-que-é-uma-espécie-de-advogada” e ouvir um total de 15 pessoas, escrevendo os respectivos depoimentos que dava a assinar e tudo isto com algumas notas coloridas(?) a animar o desenrolar do processo…
No cenário actual e, apesar de não constar no top ten pessoal da canção portuguesa, já começo a entoar diariamente: “quis saber quem sou/ o que faço aqui”.
Passei também, qual Mofina Mendes, a adoptar a estratégia de fuga de fazer “castelos no ar” e, se por qualquer obra do acaso, vier a ser milionária (o que duvido, pois não jogo no euromilhões e a crise anda por aí), pagarei de imediato uma boa quantia a fim de assegurar um terreno para construção num qualquer planeta distante e hipoteticamente habitável…

6 comentários:

Unknown disse...

Amiga,

Também eu me sinto cada vez mais "outsider", há uma subversão que se alastra nos tempos que correm - esmaga os mais frágeis, sobretudo, os que nem sequer têm estudos,
Eu já dei muito uso a muitos livros amarelos (desde o centro de saúde, ao hospital, à Câmara Municipal).
Eu que odeio ler leis, já me forcei a ler legislações intragáveis, apenas para poder fazer valer os meus direitos.
Não tenho dinheiro para contratar advogado.
Dá muito desgaste, muita dor de cabeça (houve algumas alturas em que estive quase a desistir, por ser tanto o desgaste… foram 4 anos de cartas… de faxes... de telefonemas... de deslocações à câmara… de reuniões com doutores e engenheiros...eu sei lá… mas, GANHEI, apesar de já exausta. Ameaçaram-me, mas ainda estou viva e de boa saúde…).
Uma das vezes até escrevi no livro amarelo só para questionar, por que é que ninguém se tinha dignado dar uma resposta à reclamação que deixara naquele mesmo livro, datada do ano anterior.
Dá muito trabalho, muita dor de cabeça, desgaste e tempo da nossa vida… em que deixamos para trás tudo aquilo que nos dá prazer... É uma luta desigual... Às vezes parece que o desgaste é superior aos benefícios… Quem tem dinheiro entrega o assunto a advogados. Quem não tem, percebe como o quão sós estamos, autenticamente “entregues aos bichos”…

Unknown disse...

Ah, e ASOLUTAMENTE SOLIDÁRIA para com os estudantes com sentido crítico, que sonham com um mundo mais justo... não se deixando enganar com tão lindo "estatuto".

Unknown disse...

Para ser justa, tenho de acrescentar que a culpa não é só deste governo, mas também de todos os outros que o antecederam e de uma boa parte do Zé POVO, que corre alegremente atrás disto tudo, enfiando-se "alegremente no abismo".
Quantas vezes não reclamei em centros de saúde e hospitais para fazer valer os direitos de outros doentes? Não se me afigura nada de especial, parece-me normal indignar-me quando vejo outros seres humanos serem mal-tratados. Só quero dizer que muitas vezes a CUMPLICIDADE vem de quem menos se espera, de outros mal-tratados que fazem "sprint" e se fintam, nesta pressa de correr "alegremente" a vem quem se atira mais depressa para dentro do "ABISMO"...

É nisto que me sinto e reconheço cada vez mais uma "outsider"!!!

Unknown disse...

Nem imaginas o quanto prezo, algumas amizades preciosas, onde reconheço verdadeiros "outsiders", tão ou mais que eu...
Valem ouro!

teresa disse...

A tua guerra contra "o clandestino" foi realmente desgastante, ainda bem que tudo terminou como devia, mas com as diligências, é certo:)

Unknown disse...

Foi uma Guerra tramada! Ainda hoje dou graças por ter conseguido recuperar alguma qualidade de vida que me tinha sido roubada, sem qualquer pudor.

E a propósito, há outra guerra declarada, desta feita com não comigo directamente, mas com família. É escandaloso!