24 de abril de 2009

Evocando o general sem medo

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“A polícia de segurança de Salazar dispersou uma manifestação política no Porto, disparando sobre 5000 pessoas. Ficaram feridas pelo menos dezoito e ignora-se se morreu alguma. Além de disparar sobre a multidão, a polícia lançou jactos de água sobre os manifestantes, que dispersaram aos gritos de “Liberdade” e “Viva o General Humberto Delgado”. Desde as eleições presidenciais de 1958, esta cidade, tradicionalmente o centro das perturbações políticas Portuguesas, permaneceu pacífica, mas devemos lembrar que foi em 31 de Janeiro, há setenta e um anos, que rebentou a abortada rebelião contra a monarquia”.

No dia 26 de Março, os estudantes da Universidade de Lisboa entraram em greve porque lhes fora recusada autorização para celebrarem o seu festival anual. Esta demonstração recorda-me o grande afecto entre a geração mais nova e a minha pessoa durante a campanha eleitoral. O Dr. Salazar acredita que a geração mais nova está em grande parte a tornar-se comunista. As Forças Armadas e outras classes reaccionárias não consideram o Comunismo à maneira das grandes democracias, continuando a olhá-lo somente pelo lado mais negro.
No entanto, as Forças Armadas e outras estúpidas classes reaccionárias deverão compreender que quanto mais tempo o Dr. Salazar continuar no poder, mais Comunistas haverá. Digo-o, não porque seja Comunista, que não sou, mas porque não deixei embotar o meu cérebro pelos trinta e três anos de reinado de Salazar. De vistas modernas, tendo viajado e passado muitos anos entre os Anglo-Saxões, sou demasiado evoluído e tolerante para ter medo de quaisquer “ismos”.
O país precisa de ser governado pela geração mais nova, de entre os vinte e um e os cinquenta anos, a chamada “terceira força”. É com profunda emoção e afecto que a exorto a continuar as suas demonstrações e a tornar-se cada vez mais forte, valente e confiante na sua Causa, pois só assim incitará o país para a rebelião nacional, que virá a libertar, finalmente, o nosso povo lutador.

Humberto Delgado, Compasso do Tempo:Memórias, Edições Delfos, Lisboa, 1974

6 comentários:

Unknown disse...

Daquelas gerações rebeldes, que não "deixavam embotar-lhes" os cérebros, quantos se mantiveram iguais a si próprios e aos pricípios que afirmavam ter? E quantos deles, ao se apanharem com poder se "camaleonizaram"?

Unknown disse...

Só vem à memória Oblonsky, aquela personagem caracterizada com mestria por Tolstoy, no Romance Anna Karenina :
"... he firmly held to the opinions of the majority [...] changing his views when the majority changed their, - or rather not changing them - they changed imperceptibly of their own accord.
Oblonsky's tendency and opinions were not his by deliberate choice: they came of themselves, just as he did not choose the fashion of his hats or coatsbut wore those of the current style".

Está aqui tudo. Clarinho como a água!
Alguém - por aí - tem esta obra em português? No meu livro esta descrição está logo na página 6 (mas é daqueles com as letras muito pequeninas e compactadas). Se for necessário, eu posso traduzir, mas será sempre uma tradução de outra tradução.

Unknown disse...

# Leia-se "...when the majority changed theirs";
"...coats but wore those of the current style".

teresa disse...

Será o tal preço que, segundo se diz, cada ser humano tem? Ainda acredito que a ideia não é extensiva há generalidade:)

teresa disse...

Que erro!!! Leia-se à generalidade...:(

Unknown disse...

Ora, é nestes erros que eu me reconheço, às vezes sai cada um!!!

:-)

No meu caso, a culpa é sempre (invariavelmente!!!) das teclas...
:-)