5 de abril de 2009

INDIGNAR-ME É O MEU SIGNO DIÁRIO

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Por via deste blogue deu por ele a reler Daniel Filipe. Desse gosto não pode dar grande notícia porque não há palavras que possam falar de um encantamento renovado, dum gosto muito grande, mas também de uma raiva surda por alguém, como Daniel Filipe, ter caído no esquecimento e, pela esmagadora maioria, ser um completo desconhecido.
Ao reler Daniel Filipe foi ter ao prefácio que, José Osório de Oliveira, escreveu para “Discurso Sobre a Cidade” e deu com este maravilhoso, perfeito e colocado pedacinho: “Possuo uma faculdade que tem sido a minha melhor defesa, senão a única de que disponho para não sofrer: a de matar, no meu espírito, aquilo ou aquelas pessoas que passaram a repugnar-me”
Desta sábia sentença se lembrou de imediato, quando leu as palavras de Alberto Martins, porta-voz do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, ao vir a terreiro defender José Sócrates: “ A sua pessoa tem sido objecto de calúnia, intriga, inveja, maldizer. Com a liderança de José Sócrates, pessoa de bem, corajosa, honesta, justa, iremos encontrar o caminho da dignidade e do progresso.”
Para quem não saiba, ou disso se tenha olvidado, Alberto Martins protagonizou um dos muito notáveis episódios da luta contra a ditadura.: em 17 de Abril de 1969, por ocasião da inauguração do edifício das Matemáticas na Universidade de Coimbra, que contava a com a presença do Presidente da República, duma corte de ministros onde pontificava José Hermano Saraiva, então Ministro da Educação, pediu a palavra para, em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra falar sobre a necessidade da reforma e democratização do ensino. Um Américo Tomaz, ainda mais apalermado do que naturalmente já era, balbuciou um “Bem…bem… mas agora fala o Sr. Ministro das Obras Públicas”. Claro que quando o ministro acabou de falar a comitiva raspou-se pela direita baixa, protegida por uma batalhão de agentes da PIDE/DGS.
Este acto de coragem, de cidadania, de dignidade, marcou um tempo e a Crise Académica de 1969 entrou num caminho de não retorno.
O que leva um homem destes, que afronta um regime odioso e cruel, sessenta anos volvidos, a lamber as botas ao chefe, ao patrão?
Mudar de opinião, de ideias, de opinião é uma coisa, mas isto é algo completamente diferente,
Sente-se ultrajado. Facetas inacreditáveis, tristes, repugnantes, e aqui lembrou-se da receita de Osório de Oliveira e, no seu espírito, matou Alberto Martins. Que descanse em paz. Só lamenta não lhe poder perguntar o que é aquilo de ter inveja do primeiro ministro….
Mas indignidades, é coisa que não falta no pedaço:
Avelino Ferreira Torres, enquanto autarca, não fez nada daquilo que o levou a sentar-se no banco dos réus: absolvido
José Nuno Pinto da Costa nunca mandou distribuir fruta pelos árbitros, nem os recebia em sua casa em véspera de jogos: absolvido.
Ficamos a saber que condenados apenas são as velhinhas que no “Lidl” levam, sem pagar, uma latinha de Creme Nívea.
Isaltino de Morais, ainda a ser a ser julgado, admitiu em tribunal que foi de "forma inconsciente" que não declarou uma conta bancária da Suíça ao fisco e ao Tribunal Constitucional. Quanto ao facto de ter depositado na Suíça mais de 1,321 milhões de euros disse serem restos de fundos de campanhas eleitorais e, também, ofertas monetárias de 50 euros de cantoneiros do município. "Dá-me dinheiro quem quer, quem acredita em mim", acrescentou.
Alguém, não se sabe (?) a mando de quem, anda a pressionar os magistrados que têm em mãos o “Caso Freeport” para que arquive, rapidamente, o processo.
O primeiro ministro chega atrasado a um espectáculo, leva uma vais de todo o tamanho, regressa a casa e emite um comunicado a dizer que a culpa não foi dele, mas do ministro de Cabo Verde .Na primária o vidrinhos também dizia : não fui eu sôprofessor, foi aquele menino!
Os administradores executivos da “Mota-Engil”, se bem se lembram está lá Jorge Coelho, auferiram em 2008 15 mil euros por mês!
O Jornalista João Miguel Tavares escreve no “Diário de Notícias” uma coluna de opinião em que diz:
"Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina."
O primeiro-ministro não gostou e apresentou queixa-crime contra o jornalista que desabafou, depois de ser ouvido pelo DIAP: "Agradeço a atenção que o senhor primeiro-ministro me dedicou de que não me acho merecedor."
Areia de mais para a camioneta que possui.
Apetece-lhe fugir, deste sítio mal frequentado que é o seu país. Não sabe para onde nem como.
Acaba, por hoje, a solidarizar-se com Manuela Tavares de Sousa, presidente executiva da Fábrica de Chocolates Imperial, que na última página do “DN” desabafa: “Não é justo que o chocolate seja taxado a 20% de IVA, enquanto em Espanha é 7%,”

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A fotografia de Alberto Martins, no momento em que pede a palavra a Américo Tomaz, é retirada de “Coimbra, 1969” da autoria de Celso Cruzeiro e publicado por Edições Afriontamento, 1989.

3 comentários:

Unknown disse...

Boa tarde, Gin,

Partilho da sua INDIGNAÇÃO!
Só não sou capaz de não sofrer, com "os que me passaram a repugnar", porque continuam a interferir, de forma omnipresente, no nosso quotidiano.

Não podemos consentir tanta pouca vergonha:
É bom haver INDIGNAÇÃO partilhada.
Não podemos perder a capacidade de nos indignarmos diariamente com o ultraje - que nos estão a fazer.

A minha repulsa não pára de crescer...

PS (salvo seja): Ler Gin Tonic alivía um pouco a dor. :-)

Unknown disse...

* alívia (pois... a culpa é do Gin!)

teresa disse...

Este post levanta diversas questões, pelo que só passarei por algumas: quanto aos injustamente "esquecidos", a listagem correria o risco de ficar incompleta, quantos acabaram fora do país tendo sido devidamente valorizados onde a exigência e o rigor imperam?. Como me dizia em tempos um colega de História: "um século passado e continuamos a ser mais monárquicos que republicanos", o que explica um pouco (ou nem tanto) a ideia de compadrio vs competência.
Relativamente à justiça... será mais fácil acreditar na "fada dos dentes" ou no "abominável homem das neves"... Há alguns anos, os meus alunos (eram de uma turma que iria seguir Direito) chegaram indignados de um julgamento a que puderam assistir: a ré era uma idosa, com uma reforma miserável, acusada por ser reincidente num pequeno furto de comida num supermercado. Parece que a senhora foi tratada de forma implacável.