21 de março de 2009

O GOSTO DE NASCER QUE A PRIMAVERA TEM QUANDO MARÇO CHEGA

Image and video hosting by TinyPic

Uma velha amiga dizia-lhe que, essencialmente, os poetas eram outonais. Não discordou de todo mas, chato que é, foi adiantando que o Ruy Belo era, essencialmente, estival, e que o Eugénio d’Andrade, ia para dizer que era primaveril, mas disse-lhe que o Eugénio d’Andrade é de todas as estações. Por essa conversa antiga, pela Primavera que chegou, foi buscar um dos poemas mais antigos do Eugénio d’Andrade.

“Tu já tinhas um nome, e eu não sei
Se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.”

O relógio do “British-Bar”, o velho relógio, aquele que aparece em “ A Cidade Branca” e que o antigo dono levou com ele,o que agora lá está é um cópia não fiel… o gin era “Tanqueray,” o Silva a lembrar-lhe que o “Tanqueray” era mais caro, como se ele não soubesse…. As tardes corriam e, agora, como na canção dos beatles, “grandechildren on your knee, e quase, quase poderá dizer, sim “when I’m sixty four”. E agora que a Primavera chegou concluir que o importante era quando estava à espera dela. Assim como aqueles livros que andamos a ler, de que gostamos, que nos entusiasma até mais não, e ficamos desesperados porque chegou ao fim, quando o que era mesmo bom estava no tempo em que o líamos, o saboreávamos, enquanto o líamos é que era… e nasce uma tristeza cinzenta…
Agora é ficar à espera que os gafanhotos apareçam, gafanhoto que em francês é uma palavra deliciosa – grasshopper. O pai dizia-lhe que um homem tem que viver sempre com um pé na Primavera. Passar o tempo a pensar nisto. Suavemente. De quem sabe que não pode passar sem estes cheiros da primavera, este borbulhar de vida reacendida, memórias. Há paixões assim. Dizem que são as melhores…

1 comentário:

teresa disse...

Conheço pouco de Ruy Belo (embora aprecie o que dele li), daí não o ter associado ao Verão. Eugénio de Andrade será sem dúvida o poeta da Primavera e ocorreu-me de imediato um poema cujo título é Abril.
Por outro lado, acrescentaria ainda a existência de "poetas matinais e marítimos" como é o caso da tão pessoalmente apreciada Sophia.
Compreendo a velha amiga do gin, pois o Outono é a estação por excelência: a luminosidade é diferente (pela nitidez que surpreende) e por cá as folhas têm tonalidades vermelhas e alaranjadas que nunca deixam de espantar (mas isso será mais uma opinião subjectiva que surge por associação à primeira afirmação do post)