Ferreira de Castro ao director do Diário Popular
Sr. Director
Numa passagem da entrevista que deu ao «Diário Popular», no último sábado, o sr. José Osório de Oliveira diz que vários escritores esquerdistas, brasileiros, inclusive comunistas, e alguns escritores portugueses, "conhecidos como liberais, como democratas ou como socialistas" colaboraram na revista «Atlântico», de que ele é secretário. E acrescenta que se eu não colaborei também, apesar de convidado, foi "por ter achado isso mais conveniente, não fossem os meus correlegionários estranhar".
A isto devo responder o seguinte:
1º- Se eu aceitasse o convite que o sr. José Osório Oliveira me fez, seria eu que estranharia a mim próprio, antes que os outros estranhassem, pois nunca colaborei, não colaboro, nem penso colaborar em qualquer publicação oficial.
2º- Mesmo em publicações particulares - e algumas merecem-me a melhor simpatia - não colabora, desde há muitos, muitos anos e se às vezes o meu nome nelas aparece é sob páginas extraídas dos meus livros; não colaboro nem colaborarei enquanto houver censura em Portugal, pois considero esta uma violência exercida sobre a mentalidade nacional e uma espoliação dos meus direitos de homem, de cidadão português e de escritor - tudo como consequência duma tirania que, nem os que a praticam, nem os que a defendem, conseguem ocultar com as suas palavras.
Com antecipados agradecimentos pela publicação desta carta sou
De V., etc.
Ferreira de Castro
(museu Ferreira de Castro, sem data, embora tudo leve a crer que este documento coincida com o aparecimento da «Atlântico» em 1942)
7 comentários:
O RAA, amigo do Dias, vai gostar de ver a citação :)
http://ferreiradecastro.blogspot.com/
Ainda bem, mesmo quando alguns dos posts possam parecer revestir-se de um carácter mais pessoal (este por "colagem", embora o não possa parecer), nunca perco de perspectiva o sentido de utilidade pública, mais arredado da imprensa em papel e mais presente nos blogues (fenómeno internacional, v. livro "Blogs & Citizenship"). Quanto a Ferreira de Castro e como "sintrense" por empréstimo tenho algumas coisinhas por cá, caso vejam nelas algum interesse:)
Já tive tempo para espreitar o blog deste amigo do Dias e reparei que ele também recorre a algumas das publicações de onde retirei o texto, mas as que vi por lá têm outra data. Na casa paterna há uma belíssima edição em 2 grandes vols. da "Selva" com ilustrações de muita qualidade.
Ele é do Museu:) Fala com o Ricardo que é como tu excelente pessoa. E tem uma filha chamada Teresa:) Isto sei pela leitura dos blogues dele:)
Ao dispor :)
Se não estou errado, a Teresa retirou essa carta duma «Varia Escrita» em que eu a publiquei, numa resena epstolar que denominei «Cinco Centenários», certo?
E mais um abraço, T!
Outro abraço RAA. Ainda te devo uns FCs.
RAA,
em primeiro lugar, as desculpas pela indelicadeza (e distracção, o que é uma característica) e passo a explicar:
1- o texto foi tirado de "Vária escrita", 2000 e só referi a 1ª fonte - o museu - tendo ficado a publicação por referir (em tempos não esqueci de o fazer quando postei sobre o palácio Valenças);
2- só depois de ter lido o seu comentário associei o RAA ao nome do responsável pela resenha, se o mundo é pequeno, Sintra é um microcosmos;
3- a publicação foi-me amavelmente oferecida (bem como a colegas interessados) no dia do professor em 2007, tendo dedicatória do vereador deste pelouro que não conheço, mas de quem tenho uma impressão a priori muito favorável quando o ouvi referir na comunicação social a sobrelotação das escolas no concelho (Sintra e Sta Maria da Feira são casos de excepção a rebentar pelas costuras), ao contrário do que sucede pelo resto do país- considerei a oferta do exemplar um gesto muito nobre (conheci alguns dos nomes que assinam textos num encontro há mais de dez anos, com lugar no Palácio Valenças (em que também esteve o arqueólogo Cláudio Torres) quando se tentava que Sintra passasse a património da humanidade)
Para concluir: enquanto tiver - o tempo voa - alguma flexibilidade de tempo, tenho dois projectos a concretizar: visitar com calma esse espaço dedicado a Ferreira de Castro, bem como o outro, na Rinchoa, dedicado a Leal da Câmara. É que por vezes vamos para longe e não analisamos devidamente o que fica a dois passos (gesto bacoco, como diria Eça que também tem tantas memórias associadas à nossa bela vila)
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