24 de março de 2009

A CIDADE É A EXPERIÊNCIA QUE DELA TEMOS



Quando veio morar para o bairro, o chafariz já lá estava, mas não deitava água. Por esse tempo o tráfego automóvel não atingia os contornos dos dias de hojeConstruído em 1896, o chafariz servia para abastecer os habitantes e os animais. Era uma peça circular, em pedra, com um tanque em toda a volta para os animais beberem.. Depois os animais deixaram de andar pela cidade e passou a haver água canalizada. O chafariz deixou de ter sentido, cortaram a água e para ali ficou a degradar-se. Apesar de centenário o chafariz era um vulgar chafariz sem ponta de história. Já se tinha entrado no ano 2000, o chafariz apenas estava ali para atrapalhar o trânsito Legitimo perguntar-se para que serve um chafariz que não deita água e atrapalha o trânsito.Por uma manhã a Câmara Municipal colocou meia dúzia de homens, umas máquinas e num ápice o chafariz foi abaixo.Caiu o Carmo e a Trindade, as gentes do bairro movimentaram-se e foram falar com o Presidente da Junta de Freguesia , que não sei quê tinham crescido a ver ali o chafariz, tomavam banho no tanque, era um património local que a Câmara devia ter respeitado. Gentes de um tempo em que ainda se conversava sentados, às portas das casas, pelas noites de Verão, as pessoas conheciam-se, falavam de janela para janela, um tempo em que havia miúdos a brincar nas ruas. Um tempo que a televisão destruiu .O assunto deu brado e até veio nos jornais.Ele não sabe o que se passou ao certo. Sabe apenas que passados tempos, a Câmara instalou ali um amontoado de pedras com uma torneira no meio que continuou a não deitar água. Não deita água mas continua a atrapalhar o trânsito. ali, naqueles quatro caminhos da 4 de Agosto com a Sabino de Sousa. Os populares que cresceram a ver o chafariz, que foram à Junta reclamar, uns já morreram os que ficaram, já há muito se marimbaram para o chafariz e à noite ficam em casa a ver a novela, ou o futebol.Claro que retirar e voltar a colocar o chafariz, custou dinheiro: à Câmara, às gentes cá do bairro, aos munícipes em geral. Esse dinheiro poderia ter sido empregue de maneira diferente. Ele que até é muito-grândola-vila-morena, interroga-se, por vezes, na validade destas intervenções populares. Dirão que são os riscos da democracia...O chafariz é horroroso, atrapalha o trânsito, permite que, como se vê na foto, um dos lados sirva de parque de estacionamento e, normalmente, a confusão é muita.Tem a leve sensação que esta prosa não irá agradar a muitos, mas é o que sente. Nunca há-de esquecer um domingo de eleições, a segunda maioria absoluta de Cavaco Silva, a conversa, no café do Sr. Joaquim, alto e bom som para ser ouvida:- Então D. Amélia já foi votar?-Venho de lá mesmo agora.-E votou bem?-D. Maria: os ricos votam sempre bem, os pobres é que se enganamÉ assim a história. Simples. Segundo uma outra história que nos contaram, convém não esquecer que Pilatos, aquando da crucificação de Cristo, teve um cuidado preliminar: perguntou ao povo por quem optava: se por Cristo, se por Barrabás. O que significa que o importante não foi ele ter depois lavado as mãos. O mais importante foi o povo ter escolhido mal…

2 comentários:

Bic Laranja disse...

Sobre o direito a voto estamos conversados. No meio disso o chafariz são peanuts, como diz certa democrata na TV.
Cumpts.

Gin-tonic disse...

Muito obrigado pela revelação da sua história sobre os amendoins. Interessnates as fotografias porque só desaguou no bairro, em finais de 1972, se bem que fosse visita do velho "Max".
Quanto ao resto, percebeu perfeitamente o recado. Claro que não havia necessidade...
Um abraço