21 de fevereiro de 2009

HÁ 35 ANOS!


Quando é que o 25 de Abril começou a desenhar-se?
O descontentamento entre os militares face à guerra colonial estava em crescendo. Mas são os próprios militares que determinam que o “Movimento dos Capitães” nasceu em Évora, numa reunião alargada, no dia 9 de Setembro de 1973.
A 23 de Fevereiro de 1974, o General António de Spínola, com chancela da “Arcádia”, publica o livro “Portugal e o Futuro”.
Alguns historiadores dizem que Marcelo Caetano acabou a leitura do livro na madrugada do dia 21 e logo admitiu o que há muito suspeitava: o regime estava por um fio.
Artur Portela Filho, no “República” de 11 de Março de 1974, terminava assim uma carta dirigida ao General Spínola:
“Portugal e o Futuro” surge como “o livro esperado”.
É possível, mas por quem?
Pela nossa parte o livro a escrever não é este – é outro.
E será uma obra colectiva.”
Dois dias depois do levantamento de 16 de Março de 1974, protagonizado pelas tropas do Regimento de Infantaria 5, das Caldas da Rainha, Vergílio Ferreira, no 1º volume do seu “Conta-Corrente”, escreve: “O livro de Spínola alastrou numa revolta militar frustrada. O livro? Há um clima de inquietação, um cansaço do provisório em que vivemos. O difícil da questão é que solução alguma coisa se nos impõe como boa. Há que escolher a menos má. Qual? A África é dos pretos que “exploramos” há quinhentos anos. Exploramos? Só? Mas como aguentar o embate da separação? O recurso seria retroactivo: termo-nos preparado para isso. Mas Salazar, como certos bichos, o que entregou foi pedra. Dizem-me: o Marcelo quer aguentar a guerra até estarmos preparados. Mas o desgaste não vai mais depressa que a preparação? Tentamos acumular de um lado, enquanto gastamos do outro Qual o saldo? Entretanto, ainda se recorre à retórica imperial. “Deus manda combater, não vencer, diz Marcelo. Mas Deus manda o que lhe mandamos mandar. Deus de paz, Deus carniceiro, Deus celeste ou terreno. O Deus de Marcelo não é muito inteligente. Ou estará simplesmente enrascado, sem saber o que fazer.”:
Sabe-se hoje que o livro não foi escrito por Spínola, mas por um capitão de artilharia, que mais tarde lhe escreveria também os discursos.
O “Diário de Lisboa” de 19 de Janeiro de 1976 publica um depoimento do “escritor-fantasma” que considera Spínola um “vaidoso, demagogo e intelectualmente preguiçoso, mas com uma memória notável.”
Em 19 de Agosto de 1976 escreve Meira Burguete no “Diário Popular: “Spínola entrou (?) numa revolução (?) que quis corrigir (?) ou destruir (‘) uma outra revolução que não teria seguido o cariz que o Spínola queria.”.
Vicente Jorge Silva no “Público” de 14 de Agosto de 1996. “O Marechal Spínola ficará para a História não por qualquer feito militar de relevo ou pela sua actividade militar mas por ter escrito um livro. O 25 de Abril não foi obra de um livro. Mas sem esse livro e sem a assinatura do seu autor, é provável que o sobressalto libertador que uniu então as Forças Armadas não tivesse sido possível.”
O Marechal Costa Gomes na entrevista recolhida para o projecto de “História Oral do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coinbra”, disse: “O General Spínola tece sempre contradições enormes entre o que julgava intimamente poder fazer e o que fazia. Interiormente, foi sempre um ditador potencial. Não evoluiu nada desde que saiu da Escola do Exército até ser governador da Guiné.”
Este “post” é apenas o registo de uma efeméride, um ponto da história, o que lhe quiserem chamar.
Para além do discurso, causou-lhe sempre repulsa assistir ao espectáculo de Spínola de monóculo e pingalim: a Itália fascista, a Alemanha nazi chegavam-lhe à memória.

11 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Antes um monóculo e pingalim que o "Crachat de Ouro" da Pide.

T disse...

O Exército era a força armada do regime. É bem sabida que a sua colaboração com a Pide, nomeadamente em África. Acho que não existiram santos. Tenho mais respeito por um homem convictamente de direita e que nunca o escondeu, do que pelo oscilante e acomodado Costa Gomes e por isso chamado Chico Rolha.

Luís Bonifácio disse...

Para além da rolha era conhecido no meio castrense pelo... Crachat de ouro.

Crachat a que prestou sempre as devidas homenagens, pois foi por sua, e só sua intervenção, que em 1992 se atribuiram duas pensões, por feitos excepcionais em combate, a dois Ex-Pides, seus subordinados em Moçambique.

Anónimo disse...

Caro Gin-Tonic,

Eu deste seu post, só gostava de saber duas coisas:

1º Qual a ideologia política do " Diário de Lisboa", em 19 de Janeiro de 1976?

2º E quem é o senhor Vicente Jorge Silva, ou terei que ir ver há Wikipédia?

Fernando

teresa disse...

Algumas notas soltas:
1- um familiar que até ao início de 70 desempenhou na Guiné-Bissau o cargo administrativo de Director da Fazenda, viveu em constante litígio com a governação do autor da obra aqui postada, atendendo ao estilo "musculado" que sempre caracterizou o general do monóculo;
2- a guerra colonial encontrava-se agonizante - verdade de La Palisse - não podendo ser alimentada em permanência por um país cada vez mais distanciado da restante Europa;
3- em 1980, como professora, encontrei, em Moçâmedes (actual Namibe) muitos jovens de 15 anos que não se conseguiam expressar em Português. Lembro-me de ter, dois anos mais tarde, relatado por escrito a situação ao escritor Alberto Ferreira, meu professor de Cultura Portuguesa na Faculdade de Letras, que registou por escrito e à margem do meu trabalho: "é necessário que o mundo saiba".

T disse...

Todos os generais e demais causavam problemas às pessoas de bem. Mas prefiro-os de direita até ao fim do que trapezistas a meio de carreira. Estive em Londres em 73, era uma adolescente e tive a percepção que Portugal tinha que mudar. Na mesma altura em que Allende era assassinado. Eu não gosto mesmo de tropas.

teresa disse...

Com todo o respeito pela opinião da T (laranjina C), eu diria:
- não subscrevo quem é de direita até ao fim;
- não subscrevo trapezistas;
Não consigo encontrar uns e outros como alternativa, só não me identifico com nenhuns pelo facto de a minha mundividência não ser dual.
Ainda não era adolescente e já me incomodava quando, durante a realização de eventos desportivos, o meu olhar esbarrava com as filas que, no Estádio Nacional, eram reservadas aos jovens mutilados da guerra colonial, isto para não mencionar os lamentáveis peditórios da Cruz Vermelha e a situação patética a que eram sujeitos os combatentes que, pelo Natal, enviavam mensagens televisivas às famílias.

gin-tonic disse...

Tem ideias e opiniões. Por hábito coloca-as o mais correctamente possível e respeita sempre as dos outros. Entendeu registar uma efeméride, de discutível importância, mas entendeu fazê-lo. Sente agora que poderia ter evitado o parágrafo final do post, mas aconteceu, o teclado soltou-se…
Caro Fernando: ambos sabemos as respostas às sua perguntas e onde isso nos conduziria. Não quer de modo algum fugir à discussão mas diga-se o que se disser, nenhum vai mudar de opinião e tudo isso nos levaria a comentários infindáveis, e olhando aos inúmeros exemplos que andam pela blogosfera, por norma, acabam no insulto. Com ele isso nunca aconteceria porque saberia retirar-se a tempo. Não por comodismo, cobardia, o que quer que seja, apenas respeito. Por ele e pelos outros.

Anónimo disse...

Meu caro Gin-Tonic,

É efectivamente com muito respeito que lhe vou responder.

Tendo ambos idades diferentes, sendo ambos de ideologias completamente opostas, concordo perfeitamente consigo, quando diz que ambos não conseguiriamos, mudar as nossas opiniões.

Concordo quando afirma, que na blogosfera, efectivamente não se deve abordar, determinados assuntos, alguns deles, como este bastante delicados, mas também o quero informar, que ao longo de pouco mais de um ano, que ando pelos blogues, talvez foi a primeira vez que abordei, um assunto desta natureza, mas fi-lo com consciência, que da sua parte iriamos respeitar mutuamente, simplesmente por uma única razão, porque tenho tido o cuidado de ler, uma grande parte das suas intervenções.

Para terminar, acredite que as minhas duas perguntas, não foram nenhuma provocação, mas sim, mais a curiosidade de saber a sua posição.

Desejo-lhe a continuação de um óptimo fim de semana.

Fernando

carlos disse...

este poderia ser um assunto, ao qual, naturalmente, responderia em formato lençol para cama double king size.

estejam descansados, que não estou para ai virado.

quanto ao spínola, é um daqueles colonialistas (convicto fascista em boa parte da sua vida), que um dia percebeu que tinha que mudar de vida.
alguns oficiais subalternos aproveitaram-se do seu umbigo maior que ele e colocaram na boca (ou na máquina de escrever) coisas que ele jamais escreveria da sua cabeça.
o costa gomes (pessoa que, como calculam, não gosto particularmente) ainda um dia será recuperado pela história como o homem que salvou pelos menos duas guerras civis em portugal (por causa do tal alcunha de rolha que era, afinal, habilidade diplomática.
mesmo para mim que não gostava dele, tenho que o admitir.

caro fernando, já que o gin não respondeu à sua pergunta, eu informo que o vicente jorge silva foi o director de um jornal antes de 1974 (o comércio do funchal) onde se formaram grandes jornalistas e uma lista de hoje notáveis que seria fastidioso enumerar aqui (já aqui escrevi um post sobre o dito jornal cor de rosa); foi director do expresso quando era o jornal de maior circulação em portugal, realizou filmes, enfim é alguém que se pode orgulhar do seu passado. foi um jornalista maior que 90% dos jornalistas que hoje escrevem (mesmo contando com velhas glórias).

o diário de lisboa era, na época que cita, maioritariamente de 'esquerda', como eram todos os jornais da época.
mesmo os de 'direita', como o 'jornal novo', ou o 'dia' se hoje o folhearmos parece uma coisa de bloco de esquerda. era a época em que o ppd (hoje psd) dizia que tinha influências marxistas e a seta preta (das três setas) era a herança do anarco-sindicalismo); ou as duas setas do cds serem a confluência da esquerda e da direita:
a sociedade mudou muito desde esses tempos longínquos.

quanto às polémicas, caro gin, o que eu odeio é a deliquiscência gelatinosa em que todos nos transformamos e que nos impede de discutir com medo de ofender.

parece que ter ideias e opiniões é um crime e uma vergonha.

para esses peditórios não dou.

gin-tonic disse...

Caro Carlos: apenas uma, duas achegas, apenas isso:
O pequeno demónio da polémica que viaja dentro dele, tem-no acompanhado ao longo de todos estes tempos e irá para o fogo com ele. Só que aprendeu que a polémica não pode ser uma cegueira crítica que desagúe em tourada, com todos aos gritos, a determinda altura, ninguém a perceber
já o que se está a discutir. A questão não é o que nos impede de discutir com medo de ofender e ficar gelatina. A questão para ele é ter como direito seu o não responder, tão importante como o de resposta e mais amplo porque não regulamentado na Lei.
Aprendeu também que a diversidade e o antagonismo de ideias, dentro de certos limites de equidade e cortesia são próprios de uma boa polémica. Tem alguma aversão pela polémica espectáculo que serve para gáudio da galeria e não traz qualquer benefício à discussão de ideias. Por norma tudo isso acaba no insulto. Acresce que há quem se sinta na necessidade de ter a razão no bolso do colete e isso não conduz a parte alguma.
Ambos sentimos a importância da crítica e da troca de ideias e aparentemente, o que nos diferencia é o estilo.
No panic!
Como é óbvio, o “Comércio do Funchal” não produziu apenas bons jornalistas, também teve as suas alimárias. Uma anda por aí, passeou-se durante anos como director do “Expresso” e hoje é director do “Sol”.
Agora para algo completamente diferente: boa a vitória de sábado. Há muito que não via o Glorioso levar tamanho banho de bola. Hélas!:::