21 de dezembro de 2008

UM NATAL



Um Natal” é um conto de Truman Capote. Conto autobiográfico, um lindíssimo conto. A edição que tem é da “Difel” de 1983. Já por várias vezes tentou encontrá-lo para oferecer, sem qualquer êxito. Não sabe, se entretanto, já foi feita alguma reedição. É uma pena que isso ainda não tenha acontecido. E publica-se, republica-se tanta coisa...

“E esperei então a noite de Natal e a chegada sempre excitante do gordo Pai Natal. Claro eu nunca tinha visto aquela coisa pesada e grande, de cara redonda balouçando pela chaminé abaixo e repartindo alegremente sua generosidade debaixo de um árvore de Natal. O meu primo Billy Bod, que era um estafermo enfezado mas tinha uma cabeça dura como ferro, disse que aquilo era uma treta, tal criatura não existia.
- Uma ova – disse ele – Qualquer pessoa que acredite que o Pai Natal existe, acredita que uma mula é o mesmo que um cavalo – Esta discussão teve lugar na praça do tribunal. Eu disse: - O Pai Natal existe porque o que ele faz é a vontade de Deus e tudo o que é vontade de Deus é verdade - . E Billy Bob, cuspindo para o chão, disse virando-me as costas: - Bem, parece que temos outro pregador na família.
Eu sempre jurei que nunca haveria de dormis na noite de Natal, queria ouvir a dança arrogante das renas no telhado, e estar lá à saída da chaminé para apertar a mão ao Pai Natal. E particularmente nesta noite de Natal, nada me parecia mais fácil que ficar acordado.
(…)
Doze horas mais tarde estava eu em casa, na cama. O quarto estava escuro. Sook estava sentada a meu lado, oscilando na cadeira de baloiço, um som tão calmante como as ondas do oceano. Tentei contar-lhe tudo o que tinha acontecido, e só parei quando fiquei rouco como um cão cansado de uivar. Ela passou os dedos pelo meu cabelo e disse: - Claro que o Pai Natal existe. Só que ninguém consegue fazer sozinho tudo o que ele tem para fazer. Por isso o senhor distribuiu a tarefa por todos nós. Por isso toda a gente é Pai Natal. Eu sou. Tu és. Até o teu primo Billy Bob. Agora vai dormir. Conta as estrelas. Pensa na coisa mais tranquila que conheças. Como a neve. Lamento que a não tenhas podido ver. Mas agora a neve cai das estrelas. Estrelas brilhando, neve rodopiando dentro da minha cabeça; a última coisa de que me lembrei foi da voz calma do Senhor dizendo-me aquilo que eu tinha de fazer.”

1 comentário:

teresa disse...

Penso que ainda exista (o livro) em edição Difel.
Também foi editado pela Asa com o título: Um Natal e Outras Histórias (esta edição mais recente).