19 de outubro de 2008

PROCURO O MEU AMIGO JOHNY




O bairro acordou com as paredes em cada esquina, com os troncos das árvores, um pouco por todo o lado, com fotocópias que mostram quatro fotografias de um cão e um apelo lancinante

PROCURO DESESPERADAMENTE O MEU MELHOR AMIGO JOHNY

Seguem-se os pormenores: porte pequeno, olho azul e olho castanho, coleira azul. O desespero leva alguém a oferecer 250 euros a quem o encontrar. Se calhar nem os tem, ou se os tiver, far-lhe-ão imensa falta, mas um amigo vale tudo o que se possa fazer por ele, porque só com os amigos nos sentimos bem

Os olhos lêem e sente lentamente que isto o vai deixar triste pelo dia fora, talvez por mais tempo ainda. Fica assim sempre que sabe que alguém, mesmo que não conheça, está com dificuldades.

Não sabe o final da história: se o Johny foi encontrado, se pelas próprias patas regressou à casa do amigo. Ele sabe que as dores de coração vêm, vão, deixam cicatrizes. No cartaz até está o número de telefone, poderia saber, mas só se tivesse a certeza que o final da história é um final feliz. Não lhe fica bem, ele sabe isso perfeitamente, porque lhe faz sempre realçar as pequenas cobardias que diariamente, por isto ou por aquilo, transporta. Mas não sabe como lhe dar a volta. É isso que transparece do modo como finaliza o texto: não saber como… e tanto que ele gostava…

2 comentários:

lulu disse...

Também há muitos cartazes desses na minha zona,se calhar a tua zona é a minha.
Já foram colocados há algum tempo, há mais de 6 meses e começam a perder cor.
Quando vejo o cartaz, tenho esperança que o cão tenha aparecido, mas se calhar não aconteceu porque, pelos vistos, o dono continua a colar cartazes com o apelo.
Parte-me o coração, imaginar um dono tão triste e preocupado, ainda por cima quando há tantos que os abandonam e maltratam.

gin-tonic disse...

Provavelmente estamos na mesma zona, se bem que já tenha visto os cartazes fora da zona onde vive.
A fotografia deverá ter seis meses, ou talvez mais. Recorda-se que quando viu os cartzes ficou incomodado, ao ponto de voltar a casa para buscar a máquina fotográfica De repente sentiu o garoto ou o idoso, seja quem for, desesperado à procura de um cão que. possivelmnte lhe amenizava a solidão.
A vasculhar papéis encontrou a fotografia e compôs a história.