11 de setembro de 2008
As cartas que voam
Eram assim as capas dos blocos para escrever cartas aéreas. Papel fininho para não pesar, folhas grandes para rentabilizar. E uma aero-moça a ajudar.
E adiciono este texto escrito pelo nosso leitor gin-tonic (é demasiado bom para se perder nos comentários) e que ele ou ela me desculpe pelo abuso
11 Setembro, 2008 19:52
gin-tonic disse...
Espero que esta minha carta te vá encontrar…
No dia em que vimos “A Cidade Branca” do Alain Tanner, cavaqueando entre dois gins, veio à baila tu dizeres: “já ninguém me escreve”.Ninguém escreve a ninguém. Gabriel Garcia Marquez, por outros motivos, deixou isso num livro que metia um coronel pelo meio. Ninguém escreve a ninguém. Abre-se a caixa do correio e encontramos o vazio, ou os folhetos de propaganda, a conta do telefone, disto e daquilo, o professor Fofana, especialista em amor e trabalhos ocultos a dizer-nos para o contactar, o extracto bancário a dizer-nos – era necessário? – que cada vez temos lá menos dinheiro. Já não se escrevem cartas como antigamente. Os amigos foram para longe e já não escrevem. Os amigos que estão perto preferem os abraços e os beijos pelo telemóvel. Num qualquer Natal ente 22 e 25 de Dezembro as operadoras portuguesas processaram 195,5 milhões de mensagens escritas (SMS) 1,36 milhões de mensagens multimédia (MMS). A dizerem o quê? Who knows!...Por mim gosto de palavras desenhadas no papel. Deixámos de comunicar apesar de passarmos horas ao telemóvel. Já ninguém sabe onde está o marco do correio da rua onde vive. Tudo isso acaba no mundo de silêncio que de repente nos envolve e não sabemos como veio, como aconteceu. Acredito que para se escrever isto que vou dizendo é necessário uma grande dose de ingenuidade. Que seja!. Como escreverei num SMS o teu silêncio. Que se esconde. Tem um tempo moroso e dele surgem cidades e embora daí nada venha fica o esforço de te escrever as palavras que ocorrem, que se socorrem umas às outras, algo que poderia ser assim: há um barco que encalha no meio do rio. Daí sobe a maresia, o espumar encarneirado, reflexos do sol que rói as nuvens. Há uma náusea, um torpor no meio do rio. As cordas estendidas como braços para a tua margem. E lá para o fim da tarde, não direi amigo antes de chegar a noite anódina e vagamente prestável. Porque do molhe não me ouvem, o silêncio morde-me os pulsos. O Sol esquiva-se. Sou eu que de mãos tensas torço o barco a aportar meigamente. Nisto se perde o tempo, É a nostalgia. E eu amo-te
Experimentem pôr isto em SMS.
Não conseguem.
Sirvam-se, pois, das cartas que essa jovem sorridente vos oferece…
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5 comentários:
Vim aqui parar por acaso... fiquei emocionada, comovida e só posso dizer-vos que voltarei mais e mais vezes.
Será sempre bem-vinda:)
Um abraço:)
Espero que esta minha carta te vá encontrar…
No dia em que vimos “A Cidade Branca” do Alain Tanner, cavaqueando entre dois gins, veio à baila tu dizeres: “já ninguém me escreve”.
Ninguém escreve a ninguém. Gabriel Garcia Marquez, por outros motivos, deixou isso num livro que metia um coronel pelo meio. Ninguém escreve a ninguém. Abre-se a caixa do correio e encontramos o vazio, ou os folhetos de propaganda, a conta do telefone, disto e daquilo, o professor Fofana, especialista em amor e trabalhos ocultos a dizer-nos para o contactar, o extracto bancário a dizer-nos – era necessário? – que cada vez temos lá menos dinheiro. Já não se escrevem cartas como antigamente. Os amigos foram para longe e já não escrevem. Os amigos que estão perto preferem os abraços e os beijos pelo telemóvel. Num qualquer Natal ente 22 e 25 de Dezembro as operadoras portuguesas processaram 195,5 milhões de mensagens escritas (SMS) 1,36 milhões de mensagens multimédia (MMS). A dizerem o quê? Who knows!...
Por mim gosto de palavras desenhadas no papel. Deixámos de comunicar apesar de passarmos horas ao telemóvel. Já ninguém sabe onde está o marco do correio da rua onde vive. Tudo isso acaba no mundo de silêncio que de repente nos envolve e não sabemos como veio, como aconteceu. Acredito que para se escrever isto que vou dizendo é necessário uma grande dose de ingenuidade. Que seja!. Como escreverei num SMS o teu silêncio. Que se esconde. Tem um tempo moroso e dele surgem cidades e embora daí nada venha fica o esforço de te escrever as palavras que ocorrem, que se socorrem umas às outras, algo que poderia ser assim: há um barco que encalha no meio do rio. Daí sobe a maresia, o espumar encarneirado, reflexos do sol que rói as nuvens. Há uma náusea, um torpor no meio do rio. As cordas estendidas como braços para a tua margem. E lá para o fim da tarde, não direi amigo antes de chegar a noite anódina e vagamente prestável. Porque do molhe não me ouvem, o silêncio morde-me os pulsos. O Sol esquiva-se. Sou eu que de mãos tensas torço o barco a aportar meigamente. Nisto se perde o tempo, É a nostalgia. E eu amo-te
Experimentem pôr isto em SMS.
Não conseguem. Sirvam-se, pois, das cartas que essa jovem sorridente vos oferece…
gin-tonic... ainda estou com pele de galinha...
ainda me lembrei daquela piada ou historia:
triim!!!
- telefonei para dizer que te amo.
- ok, podes enviar-me um mail?
eu tenho postais para enviar... muitos... é favor enviar morada! ;)
Caro Gin-Tonic:
Acho que foi essa a ideia que o meu amigo que me ofereceu este bloco tinha.
E que belo filme que evoca.
http://diasquevoam.blogspot.com/2007/02/pedidos-de-correspondncia.html
Este é para si.
De resto totalmente de acordo. Nada como a força da escrita em papel. O resto são lérias.
Um abraço
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