1.
o (original) lado nascente
de acordo com as memórias paroquiais de alvelos de 1758, o cruzeiro tinha a sua face principal (a do milagre do enforcado) virada a nascente e bem de frente para a forca.
esta localização de um cruzeiro com um enforcado amparado pelo santiago e salvo pelo galo cantor podia ser uma espécie de provocação, ou de tentativa de incentivo a ‘look at bright side of life’ para os condenados à forca.
afinal podia ser que tivessem sorte e aparecesse por ali o tiago a dar uma ajuda.
do lado nascente, o principal, o cruzeiro tem em cima um cristo crucificado (daí que seja mais correcto chamar cruzeiro e não padrão).
na base tem o são tiago que segura na mão direita o bordão e tem a mão esquerda levantada levantada a segurar o enforcado.
este aparece de mãos atadas, corda ao pescoço e cabeça pendida para o lado esquerdo (dele).
no cimo, entre o enfocado e o cristo crucificado, está o galo cantor. e é, provavelmente, a mais antiga representação gráfico do galo de barcelos.
na verdade, deste lado do cruzeiro temos toda a história do pobre galego que ia para compostela e se viu pendurado numa corda em barcelos.
2.
o lado poente
o lado poente parece ter sido esculpido ao estilo ‘já que aqui estamos, o melhor é acabar a coisa’.
no entanto, pode ser bem mais que isso.
a figura da base parece ser o são bento.
na maior parte dos casos, só conseguimos identificar os santos, ou as diversas versões da maria (assunção, conceição, sagrado coração, etc), pela forma como estão vestidos, ou a posição dos membros ou algum acessório (o santo antónio tem sempre aquela coisa meio estranha de andar sempre com um menino ao colo e com a mão onde não deve...).
é esta forma de identificação que leva a considerar ser o são bento: o bordão e o livro.
a grande devoção ao são bento no alto minho também ajuda.
por cima do são bento está a maria e, estranhamente, a cada canto superior da sua ‘zona de influência’, um sol e uma lua.
a importância de maria e do culto mariano é mais que conhecida. o facto de, ao tempo, naquelas zonas, o povo não ter apagado da memória de terras de santa maria, tambem ajuda bastante.
o sol e a lua, tendo muitas interpretações de muitos dos que já olharam para o cruzeiro.
se, como calculam, tudo o que já aqui disse sobre o milagre e o cruzeiro tem por base o que já li sobre o assunto e nada disto é de minha exclusiva lavra (exceptuando a parte de escolher entre opiniões diversas aquela que considero mais justa), com a explicação da razão da inclusão do sol e da lua numa espécie de plano secundário naquele rectângulo dedicado a santa maria, a minha teoria é nova.
o que está longe de poder estar certa.
mas é a minha (finalmente)
os livros sagrados da tradição judaico-cristã já tiveram muito mais importância do que hoje têm para nós e o seu conhecimento era muito generalizado. assim, fazer uma qualquer alegoria a uma sua passagem era coisa mais que natural.
no livro do apocalipse diz-se que ‘a cidade não necessita de sol nem da lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de deus..’
esta sobreposição da claridade de maria sobre a luz do sol e da lua parecem-me muito mais uma metáfora associada a esta definição da comparação da luz divina com a das forças astrais (e ainda com uma grande aceitação e temor por parte dos povos), do que com qualquer outra das muitas teorias formuladas para o aparecimento do sol e da lua naquele local.
Por cima da maria e por baixo de novo cristo crucificado (cada uma das faces do cruzeiro tem um cristo) está um dragão.
Este dragão simboliza o mal, do mesmo modo que, do outro lado, o ‘serafim’ (galo) simboliza o bem.
(espero que os meus amigos ‘andrades’ não achem que esta interpretação sobre o dragão é uma perseguição doentia... mas antes isso que 'cordeiros de deus', por muito que seja muito mais favorável do ponto de vista teológico)
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