4 de fevereiro de 2008

O carnaval dos animais

Chuva, estampanços, copos, e alguma gripe; este é o cenário. Consta que alguns desfiles borregaram à conta do mau tempo. Pouco importa, que a preparação da coisa é o que, verdadeiramente, conta.

Hoje, à beira da estrada no Bairro Padre Cruz, três cães vadios conversavam calmamente enquanto os poucos carros desta ponte carnavalesca iam passando. Não tinham mau aspecto, note-se - nos bairros mais pobres a probabilidade de os animais estarem bem alimentados é razoável. Apesar da chuva e da lama consequente até nem estavam particularmente sujos. Imagino-os neste momento numa qualquer tasca do bairro a beber uma taça de tinto e a discutir os últimos resultados do Sporting.

Tenho blogado pouco, isto é, tenho lido muito e escrito pouco. Parece-me uma tendência crescente em mim. Há tipos interessantes a escrever, por vezes com a desagradável particularidade de escreverem aquilo que eu gostaria de ter escrito, mas creio que esse é o problema de qualquer um que tenha lido algumas frases dos livros do Harry Potter. Portanto isto sai por ataques - na verdade estava quase, quase a desligar o computador quando me deu uma crise irreprimível de dar ao dedo e à tecla. Azar - sigam em frente e não leiam, que isto hoje foi para meu deleite e não para debitar frases sumarentas. Ok, mais à frente o link para uma música bonita, que sabe sempre bem. Uma coisa suave, tipo isto.

Voltando aos animais: passeando os nossos cães há um papagaio num rés-do-chão que se farta de conversar com eles. Eles ligam-lhe pouco - confesso que também não tenho a certeza absoluta de que o papagaio esteja a conversar com eles ou, muito simplesmente, a protestar com o dono da casa porque a ração de sementes de girassol está no fim. A verdade é que o bicho grasna, cacareja e apita e os cães arrebitam as orelhas, enquanto pastam e/ou fertilizam as ervas que vão crescendo até que os senhores da câmara venham cortá-las, o que acontece umas quatro vezes por ano. Sabe-se que eles estão a tratar da erva porque se ouve uma música muito parecida com esta e que marca, de algum modo, a mudança das estações.

Ainda sobre o carnaval, noto que as imagens televisivas de Veneza me atraíram, bem mais, aliás, que as estafadas brasileirices. Claro que Veneza cheira mal que se farta e os venezianos são uns salteadores de estrada, mas a cidade é tão bonita que se perdoa tudo o resto. O Turner é que tinha razão em pintá-la de madrugada, que os turistas japoneses, caso existissem à época, ainda estariam a dormir, embalados por uma noite a ouvir coisas como esta no Florian. Ah, e em Veneza também há cães. E gatos.

Nota à margem: abri uma garrafa de Bushmills 10 anos para fazer Irish coffees. Foi na verdade um café muito de Benfica, mas soube bem na mesma. Alguns puristas poderão achar que é um crime usar Bushmills de 10 anos num Irish coffee. Naturalmente discordo. O melhor deve ser usado para fazer o melhor. E que melhor modo de celebrar os 400 anos de uma das mais famosas distilarias do mundo? Com isto o meu carnaval ficou, sem dúvida, com um gostinho muito especial.

(PS: a boca do café de Benfica é da S. O seu à sua dona).


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