7 de janeiro de 2008

Luiz Pacheco

«Outubro, 15. Noite em Vieira do Minho friorenta e agitada por pesadelos, incongruências, palpitações. Já de madrugada, O Mensageiro das Trevas aparece-me na cama, agarra-me quase ao colo com os seus dedos de aço nos braços e diz-me baixo, numa voz irónica mas simpática (ou cínica e trocista?): "Ontem (referência, parece, a um sonho meu da véspera, em que me surgira A Morte, com a sua caveira comum, de dentuça à mostra, cara desgraçada!), ontem viste-me com a minha triste cara verdadeira, hoje venho alegre (a face dele era uma máscara apalhaçada, coberta de giz) mas é para te dar uma má notícia, coitado (1):
AMANHÃ MESMO MORRERÁS!»

é assim que se inicia O LIBERTINO PASSEIA POR BRAGA, A IDOLÁTRICA, O SEU ESPLENDOR (1970), quem o queira ler na íntegra, pode ir até aqui.

talvez agora com o seu desaparecimento físico, este país dê mais atenção à sua obra.

e para terminar este texto, deixo-vos com o final deste passeio por braga:

«Descubro que o êxito e o fracasso são uma e a mesma cadeia e em tudo. O êxito para cima, o fracasso para baixo, e quando digo baixo digo baixo: sujidões, dívidas, vergonhas, podridão, loucura. Mas o que toma tudo igual é que ambas as cadeias se encontram, nada a fazer, meus caros, daqui a cem anos ninguém se lembra.

E a nossa lição-abjecção a quem aproveitará?

Já tanto faz.

Tanto nos faz.

Braga, 16 ou 17 de Outubro, 1961.»

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