Cuidadosamente fui educada para ir à livraria. Quando era miúda era uma prenda semanal. Se tivesse feito economias, podia fazer crescer o número dos ditos. Lembro-me que um livro custava 30 escudos.
A minha Livraria de pequenina e ainda mal sabia ler, foi a da Dona Lívia na Póvoa de Varzim. Era uma velhinha adorável, ainda devo ter postais que me enviou. Já morreu há muitos anos.
Coimbra: aí não havia livreiro, eram duas grandes livrarias: Atlântida e Almedina,salvo erro. Geralmente lá me abandonavam, com a certeza de que não fugiria nunca, pois na altura ainda passeava com vigilância. Lembro-me de que muitas vezes a seguir era a sacrossanta ida ao Santa Cruz, antes de apanhar o eléctrico para Celas.
Quando fui morar para Leiria, descobri a Livraria Martins. O dono era cego, mas sabia sempre que livros indicar e onde estavam. Durante muitos anos fê-lo. Encontrava-o sempre a ele e à mulher, uma senhora muito bonita e gentil a passearem-se de braço dado.
Finalmente, quando vim para Lisboa, era uma catraia adolescente. Nessa fase descobri os alfarrabistas de livros a sério. Antes só conhecia os que vendiam os Mundos de Aventuras e fotonovelas (que também as li, tive a minha fase romântica pirosa).
Figuras referenciais ficaram os alfarrabistas, de que já muito aqui falei.
O que eu gostava de ter à mão, era uma livraria não muito grande ,mas que tivesse ou arranjasse tudo o que eu precisasse. Um senhor ou senhora simpática a atender que gostasse também de ler. Que percebesse certas incomodidades que um leitor sofre hoje
Não aprecio comprar livros em grandes espaços. Quando vou à FNAC é direccionada a DVDs ou breves incursões pela literatura francesa. E não gosto da noção de permanecer lá.
O que me safa? A sagrada Amazon. Mas fico um bocado triste.
Gostava de ter uma livraria dessas que eu gosto mesmo na minha esquina.
Sonhar não custa.
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