Queria escrever e não me apetecia. Mentalmente tiro notas do que vai acontecendo e deixo o tempo afugentá-las. Hoje talvez seja.
Há dias vi uma figura de medo de infância: o cigano mau. Parecia Rasputine, todo de preto, chapéu e olhar coruscante. Estava fixo a ver alguma coisa, que eu não compreendi o que era. De repente, lembrei-me do medo que nos era infundido em pequenos àcerca dos ciganos. Também me lembro do conceito de terroristas. Era a altura da guerra em África. Tinha pesadelos sobre como os meus irmãos podiam ser feridos ou mortos. Felizmente intervieram outras circunstâncias. Nenhum deles sofreu, mas tive amigos a quem isso aconteceu. Era miúda, tinha dificuldade em perceber os olhares vazios, os repentes de agressividade, os picos temperamentais.
Em todo o caso, infundiam-nos o medo das pessoas mais escuras do que nós. Noto que a coloração agora abrandou para um determinado tom de bronze.
Não sei onde as palavras se foram agarrar umas às outras. Certamente não queria falar sobre isto.
Mas decerto que acredito que há uma razão para todos os nossos receios. Inculcados, esquecidos e que podem reaparecer a qualquer momento, mesmo quando tomamos como certa a nossa capacidade de os ultrapassar. Não o é. Mas outros infinitos diminutivos restam.
Não era mesmo nada disto que queria escrever.
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