ao fim de muitos festivais, e quando me perguntam o que vai ser ou foi, o que gostei ou nem por isso, já tudo se torna um bocado confuso na minha cabeça atacada pela arteriosclerose.
confesso que sou um bocado estranho nestas coisas de festivais e afins.
não sou dos que vou pelo ambiente (se fosse por isso não punha lá os calcantes, seguramente)
mas sendo dos que vai exclusivamente pela música, não sou exactamente dos que sabe de cor quem vai e em que dias (tenho uma vaga ideia,o que já não é mau de todo... acho).
a minha primeira noite deste ano (a de sábado) teve a particularidade de me mostrar algumas coisas que me andavam a passar despercebidas e sobre as quais me penitencio ao jeito dum xiita com chicote de lâminas de aço em procissão de expiação de culpas.
a primeira foram os 'balla'.
sabia vagamente que o armando teixeira tinha este projecto (ok. não é só ele, mas eu não conheço os outros, nem as outras que fazem uns corinhos a imitar as meninas que acompanham o leonard cohen mas não são tão giras nem cantam tão bem), mas nunca os tinha ouvido ao vivo e, não tendo achado que fiquei mais rico por causa disso, achei que tinha sido um excelente concerto.
mesmo que muita daquela música nos soe a sons já conhecidos de muitas outras paragens.
a segunda foram os 'bonde do rolé'
um caso muito sério de explosão em palco.
uma mistura de música que vai do rock aos trios eléctricos, dos samples electrónicos às batidas mais sambáveis, tudo serve para uma iconoclastia em palco que vai das simulações masturbações ou de sexo oral a deixar alguns mitos do rock parecer meninos de coro até ao arraso ritmico de deixar toda a gente a suar em bica.
e os textos?... mmmm de chorar a rir:
"fui ao geriatra, caganeira de lascar/no meio do caminho, desloquei minha lombar/papagaio empalhado/ guisado de quiabo/óculos bifocal, velha surda é o caralho..."
ou:
"vem aqui safada/cola na minha goma/sua imunda lazarenta/por voce eu toco bronha/eu fico, eu fico/eu fico xururuco/arranca o meu saco/e me chama de eunuco/to aqui safado/colei na tua goma/seu imundo lazarento/por voce eu mordo fronha/eu faco, eu faco/eu faco sem carinho/arranco o teu saco/e te chamo de lisinho".
como se isso não bastasse, ainda deu direito a uns nórdicos que nunca tinha ouvido falar, os data rock.
confesso que esperei o pior, a começar pelo nome: uns tipos com ar de fato de treino do benfica quando estes ainda não tinha aderido à linha rosa e mandavam vir os fatos da adidas da rda por serem mais baratos e já virem com bolsas especiais para doping.
mas não obstante o ar de terem parado no tempo ali pelos anos 80, quando alguém descobriu que a musica podia ser feita por outras coisas que não apenas os instrumentos musicais e se deslumbrarem com isso, e terem sempre uns óculos escuros a lembrar a participação do turquemenistão no festival da canção de 1986, a coisa até que foi limpinha no que respeita à música e ao gozarem com eles próprios.
não sei se sobreviverão muitos anos (estas atitudes musicalmente colaterais nunca sobrevivem muito à prova do tempo), mas foi bem bom este ano.
para o próximo virão outros.
ah!.. e o palco principal...
os cinematics são como 300 outras bandas que gostavam de ser os franz ferdinand.
pode ser que sim. o esforço recompensa. e se até o engels escreveu aquele texto genial sobre a 'humanização do macaco através do trabalho' (isto é a parte em que eu armava ao pingarelho intelectual de esquerda), nada está perdido.
os cypress hill fazem-nos sentir bem porque afinal, os que estiveram na origem duma coisa que hoje deita cá para fora sub-produtos como o 50 cent, afinal não está morta.
e os outlandfish são uma daquelas bandas que acha que música e fundição de metais é tudo a mesma coisa.
mas se, por acaso, nalgumas poucas ocasiões até podem ser assemelhadas, é porque os metais colocado no cadinho foram criteriosamente seleccionados e o maçarico esteve à temperatura exacta, com a chama limpa de oxidantes aplicada apenas na sua parte mais azul e transparente e os seus semelhantes musicais tiveram os mesmos cuidados e perícias.
infelizmente não é o caso.
os buraka reconheço que têm um som poderoso e puseram o sudoeste a saltar, mas aquilo não é bem cup of my tea.
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