a rua júlio andrade é, provavelmente, a minha rua favorita em lisboa.
é pequena (menos de 200 metros, assim por cálculo...), tem poucas casas e todas lindas, imensas árvores, e uma vista deslumbrante logo na sua primeira porta, a do jardim do torel.
quando o conde castro guimarães comprou uma parte dos terrenos da quinta que encimava a zona do torel e que tinham sido do duque de ávila, deixou uma larga parcela que foi aproveitado por várias famílias abastadas para construir as suas 'vilas'.
a familia andrade, júlio, alfredo e guilhermina andrade bastos, foram os que iniciaram a 'ocupação' e, naturalmente, com o melhor lado: o da vista sobre a cidade.
julio andrade era uma daqueles figuras filantrópicas comuns nos finais do século 19, em que os abastados se sentiam na obrigação de gastar algum do seu dinheiro a ajudar os 'pobrezinhos' e, simultâneamente, perpetuar o seu nome nas ruas da capital.
se os industriais, motivados pelos ideais republicanos e/ou maçónicos construiam vilas operárias, a burguesia construía coretos e chafarizes.
para as pessoas, ou para os animais.
júlio andrade foi um destes últimos.
banqueiro e fundador da sociedade protectora dos animais, mandou instalar uma série de fontanários (ainda hoje existem vários, no principe real, largo da anunciada ou rossio, este para pessoas).
falemos então do lado ímpar desta rua ímpar:
o lado ímpar começa com a entrada para o jardim do torel e aquela vista magnífica sobre parte de lisboa.
a primeira casa que encontramos, o número 3, é hoje a sede da xuventude da galiza.
foi projectada por sebastião locati para a irmã de júlio andrade, guilhermina bastos.
nos anos setenta era propriedade de manuel bulhosa (da editora bertrand) e estava abandonada há vários anos.
foi ocupada pelo infantário popular ribeiro dos santos, que lhe lhez algumas obras de manutenção e transformou a antiga garagem em refeitório.
como o manuel bulhosa não conseguia reaver o edifício (o infantário, já com estatuto de utilidade pública, propunha-se pagar a renda devida..) teve a brilhante ideia de o doar para sede da xuventude da galiza, e originar, nos anos 80, uma desocupação bastante violenta com polícia de choque, gritos e bastonadas.
desde os finais dos anos 80 ali funciona a sede da xuventude e na antiga garagem/antigo refeitório funciona agora um restaurante a visitar.
o número 5, projectado por césar janz (e alterado posteriormente por norte júnior), foi a sede da agência noticiosa anop e depois da lusa e é agora a sede do cenjor (centro de formação de jornalistas),
o número 7, com que acaba a rua, e onde funciona neste momento a sede do serviço nacional de bombeiros (igualmente projectado por sebastião locati) era de alfredo andrade (também irmão de júlio) , pintor e arquitecto, com grandes influência culturais italianas e principal mentor paisagístico da zona.
foi utilizada, com grande espalhafato na zona, no filme 'a casa dos espíritos' como a grande casa senhorial, o que obrigou (ao tempo as técnicas digitais não eram tão perfeitas como agora) à cobertura com terra de quase toda a rua julio andrade e de uma boa parte do campo mártires da pátria.
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