"As cidades tem os seus modismos próprios - as suas vivas imagens verbais peculiares, os seus chistes, o seu calão, particulares a cada uma - a sua lexicografia inconfundível. E tudo isto é génio popular do idioma. Lisboa não escapa à regra.
Foi ela que inventou o Ver Mosquitos na outra Banda, o Meter o Rossio na Rua da Betesga, o Cair o Carmo e a Trindade, o Ficar a ver navios no alto de Santa Catarina, o Fazer a Avenida, o Amparar as esquinas, as Obras de Santa Engrácia, o Bem se canta na Sé mas é quem é, Uma vez a Cascais nunca mais, o Polir as calçadas, o Visto isso e os autos, Seca e Meca, olivais de Santarém e Passar as passas do Algarve.
A rambóia é Lisboa das docas: a bebedeira dos marinheiros ingleses - a rainbow ( o arco íris)- a originou; o café de lepes tem a mesma origem, como o guines. O mariola do Cais da Ribeira tem a raiz no mar. Os amigos de Peniche são os soldados de Pombal que vêm para policiar o pós terramoto, abarracam na Patriarcal queimada e não policiam nada.
E da passagem dos estrangeiros ficaram em Lisboa pelo menos os dois velhos dizeres: roupa dos franceses e para inglês ver."
Leitão de Barros e Abel Manta, Corvos Volume 1
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