14 de maio de 2007
o limbo, a poeira para os olhos ou câmara municipal de lisboa
o limbo (explicado às crianças) é uma espécie de cérebro do bush.
está determinado que existe, mas tudo leva a crer que se trata apenas de uma metáfora.
do mesmo modo a cãmara municipal de lisboa está assente que existe, mas tudo leva a crer que existe apenas numa espécie de limbo situado entre os interesses pessoais dos seus dirigentes e as necessidades dos seus munícipes.
mas tanto o cérebro do bush como a câmara municipal de lisboa são assuntos sobre os quais quaisquer duas linhas de prosa já são mais do que o objecto dela merece.
a minha questão com o limbo tem, em rigor, a minha idade.
exactamente!
o limbo, do ponto de vista da religião católica, é o local (algures entre o céu e a terra e levemente à esquerda do purgatorio) para onde iam as almas que, mesmo não tendo cometido nenhum pecado mortal, não tinham direito à protecção divina por não se terem livrado do pecado original através do baptismo.
como sabem, todos nascemos em pecado (por causa daquela história do adão e da eva e de mais uma série de anormalidades que a igreja foi inventando ao longo da história) e apenas depois de aspergidos com água benta nos livramos dessa chaga que nos mancha desde a concepção.
como quase sempre acontece com todos os legisladores pouco cautelosos, uma lei pode criar um vazio legislativo (sempre gostei desta expressão, mãe de todas as novas leis) e foi isso que aconteceu logo que o são gregório (não é esse por quem se grita agora nas queimas das fitas, é um tipo que viveu ali pelo século 4) se lembrou do limbo para encaixar as crianças que morriam pouco após o nascimento e não tinham tempo de se lavarem do pecado original, e também para todos aqueles que tendo boas almas, tinham vivido antes de cristo.
era uma preocupação justa. afinal as figuras bíblicas não podiam viver todas no inferno só porque alguém se lembrou de inventar o pecado original e o baptismo (mesmo que o limbo não seja propriamente um local agradável para serem enviadas).
ora, de acordo com a teologia e a prática vigente em todas as aldeias e algumas vilas de portugal, as crianças que morriam sem ser baptizadas teriam que ir para o tal limbo, que na prática era um canto no cemitério chamado (pelo menos em fajão): o canto dos anjinhos, ou dos inocentes.
obviamente enterrados em vala comum sem direito a 'campa cristã', já que não estavam purificados e por isso iam direitos para o limbo.
é aqui que eu entro.
quando nasci toda a gente achou que eu não iria passar daquele dia (para já enganaram-se nas previsões em mais de 50 anos).
mesmo á minha mãe não lhe davam muito tempo.
o facto de eu ter nascido com quase 5 quilos ajudou imenso á festa.
o tempo que demorei a nascer e a cor de semana santa com que finalmente saí cá para fora, levou toda a gente a achar que o melhor era baptizar-me logo antes que fosse parar ao limbo.
e lá comecei eu a minha vida a atirarem-me poeira para os olhos, que é como quem diz ser aspergido não com água mas com cinza, que era uma espécie de 'providência cautelar' para o supremo tribunal celeste.
se morresse no entretanto, lá poderia ter o meu nome numa lápide e já podiam rezar por mim (coisa proibida aos habitantes do limbo)
a verdade é que, passados 50 e alguns anos, ainda como presidente da congregação para a doutrina da fé, o actual papa decide convocar uns 30 teólogos para encontrarem uma forma de reciclarem o limbo.
2 anos de aturados estudos depois, chega-nos agora a notícia que o limbo nunca foi um dogma (isto é, não somos obrigados a acreditar) e que foi sempre uma 'hipótese' e que (de acordo com o documento produzido pelas sumidades teológicas): "deus, no seu grande amor e misericórdia, assegurará que as crianças não batizadas desfrutem da vida eterna com ele no céu".
ou seja, mais uma vez andaram a gozar com a minha cara.
já o ano passado concluiram que aquela coisa da virgem afinal era uma espécie de prémio com efeitos retroactivos, por via do filho ter sido quem foi; agora acabam com o limbo tornando inútil e desnecessário o facto de ter começado a vida a levar com cinzas pela cabeça abaixo...
depois admiram-se que eu seja ateu...
o que é que isto tem a ver com a câmara municipal de lisboa?
vão ver que afinal tudo o que foi feito não tinha nada a ver com o que vos foi dito que foi feito
que a governação camarária tem sido assim uma espécie de metáfora ao estilo bíblico.
com os profetas salvadores a porem-se já em bicos de pés
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