6 de maio de 2007

maria! não me mates, que sou tua mãe!

camilo castelo branco nunca teve uma vida fácil.

nascido ali para a rua da rosa, no bairro alto, filho de manuel botelho (classificado como companheiro de 'desordeiros, assassinos, loucos morais, libertinos e excêntricos') e da criada deste, jacinta rosa.
camilo lá foi arrastado para vilarinho de samardã.
o seu percurso amoroso rivaliza com a fama do pai:
se aos 16 anos já casava com uma jovem rica (não sei se uma rica jovem), que abandona 1 ano depois para se entregar à maria do adro e por aí adiante que bem fez ele que isto a vida são dois dias...

tinha camilo uns 20 e poucos anos a estava a viver no porto a passar fome de rato, porque os jornais para onde escreve não lhe pagam coisa nenhuma.
principalmente não lhe pagavam para pagar a estadia no 'hotel francês' que reivindicava o dinheirinho da dormida.

como camilo nunca foi homem de lhe faltarem as ideias para escrever, olha uma notícia nos jornais onde fala de uma pobre e idosa senhora assassinada pela filha e no dia seguinte estava impresso um texto, anónimo, cumprindo todas a regras da literatura de cordel:
curto, barato, tema a condizer com a primeira página do 24 horas, e uma primeira folha que conta quase metade de história.

e assim nasceu este delicioso 'maria! não me mates que sou tua mãe! meditação sobre o espantoso crime acontecido em lisboa: uma filha que mata e despedaça a sua mãe...'

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a cultura portuguesa fica eternamente grata que camilo, naquele dia, não tivesse dinheiro para pagar o quarto.
todos ficámos mais ricos.

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