percorri-os pela primeira vez numa tarde de janeiro, com um siroco gélido que lavava os passeios e levantava os vestidos. recordo-me dum céu pesado e da estrada branca que cortava o campo a todo o seu comprimento, do mar até às primeiras pedras do monte pecoraro.
100 passos, 100 segundos.
experimentei contar e pensar em peppino. quantas vezes passou em frente das persianas de don tano, quando ainda não sabia como tudo terminaria. pensei em peppino, com os punhos dentro dos bolsos, em frente daquela casa, perdida com os seus fantasmas.
finalmente pensei em como é fácil morrer nos confins da sicília.
(claudio fava, “cinque delitti imperfetti”, mondatori 1994)
giuseppe (peppino) impastato é hoje, provavelmente, o maior símbolo da luta contra a mafia.
criado numa família de mafiosos (um tio era o capo cesare manzella), ainda adolescente rompeu com o pai e inicia uma luta contra o poder da mafia na sicília que só acabou na noite de 8 para 9 de maio de 1978 com a sua morte.
foi assassinado pelos mafiosos que o colocaram sobre uma linha de comboio para parecer suicídio.
estava a meio da campanha eleitoral para a câmara de cinisi, onde concorria pela lista da 'democrazia proletaria'. mesmo após a sua morte, os seus concidadãos elegeram-no para o município da sua cidade natal.
um pouco porque na mesma noite foi encontrado o corpo de aldo moro, e pela força que a mafia tinha e tem na sicília, a sua morte foi abafada para além das portas da sua cidade.
no entanto, o seu exemplo e os frutos do seu trabalho na rádio aut, nos movimentos cívicos e políticos fizeram crescer inúmeras organizações que lutam contra a mafia.
passados quase 30 anos do seu assassinato, a memória de peppino impastato é cada vez mais viva.
dos cerca de 2000 amigos que o acompanharam ao cemitério ao som do 'a whiter shade of pale' até aos larguíssimos milhares que hoje enchem as ruas de itália a seguir o seu exemplo, vão quase 30 anos de intensa luta contra o poder da máfia em italia.
os modena city ramblers dedicaram-lhe uma das suas mais famosas canções.
marco tullio giordana realizou, em 2000, um excelente filme que arrecada a fatia de leão dos 'david' desse ano e recolhe prémios em veneza, cannes são paulo, bruxelas e é o candidato italiano ao óscar e aos globos de ouro de melhor filme estrangeiro.
sobre ele se fizeram entretanto inúmeros pequenos filmes ou programas televisivos e imensa literatura se escreveu.
aqui a cena dos 100 passos
e
aqui a cena final com os amigos a passarem em frente á sua casa e novamente em frente às persianas de don tono e o funeral ao som dos procol harum, numa mistura de imagens reais e cinematográficas.
a prematura morte de peppino não impediu que o seu exemplo continuasse a luta contra aqueles que barbaramente o assassinaram
no dia 5 de março de 2001, a justiça italiana finalmente condenou a 30 anos de prisão o seu assassíno, vito palazzolo,
um ano mais tarde, em abril de 2002, gaetano badalamenti foi condenado a prisão perpétua.
peppino vive !!!
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