" Agora, e lá em cima - está o Arco de São Vicente. Não quer ter história. Data de há século e meio. Mas ele é o início de uma série de "ex-libris" de poetas anónimos cujo pitoresco é feito de contemplação, das saudades e do amor humilde de cem gerações. Liga São Vicente a Santa Clara, e chamam-lhe o Arco Grande para o distinguir de um Pequeno, que se foi embora, sem se despedir da gente.
Do Arco de São Vicente, enevoado de beleza, surpreende-se o rio, com as suas velas brancas. Caem nele as badaladas do Mosteiro dos Agostinhos: ouve-se a respiração da Graça e de Santa Marinha. É um pitoresco lavado, dilatado, panorâmico, feliz de ser assim. Já não desfilam sobre ele os coches do Patriarca, a caminho da Mitra, que foi no palácio de Barbacena, nem as berlindas do velho conde de Lavradio. Mas passam as sombras das cigarreiras das fábricas de Xabregas e dos Barbadinhos, os vultos dos antiquários oportunistas da Feira da Ladra, que também vai desaparecer, e o perfil amorável de uma rapariga, que logo cedinho, com uma companhia indispensável ao seu lado, vai para o seu emprego.
Ao cabo - o Arco de São Vicente é uma redondilha"
Norberto de Araújo, Ciclo de Conferências O Pitoresco em Lisboa, Olisipo, Abril de 1952
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