23 de março de 2007

O Arco da Mouraria dito do Marquês de Alegrete




"











Os Arcos são permanentemente contemplativos, órbitas doces escancaradas para verem mais para além, e enfiarem no quadro azul da sua volta redonda o extenso panorama do sítio e do homem.
Eles foram criados como passadiços, para ligarem casas e palácios, para unirem disposições arquitectónicas de recurso, mas deixaram uma serventia livre.
-Passem vocês por debaixo de mim...

E o que tem passado sobre os Arcos de Lisboa! Um dos mais velhos e pobrezinhos da tessitura - e nos Arcos, sob o prisma do seu pitoresco evocativo, não há que cuidar se a arte neles se enflora ou não - um dos mais venerandos e mais lisboetas é o Arco da Mouraria, dito do Marquês de Alegrete. Está ali por um fio, condenado à morte pelo camartelo, e em breve irá fazer companhia ao arco de Santo André. Ele viu desfilar sob a sua sombra Fernandina durante cinco séculos , centenas de gerações , com todo o pitoresco ambulante de uma porta de entrada da cidade, vazante de Alvalade e de Arroios. Ainda há poucos anos era na Velha Mouraria da Guia e da Saúde, do passo da procissão e das betesgas dos Canos e do Outeirinho - uma simpática sentinela do pitoresco. E agora , que está ali ainda de pé como um tropeço, a quem se diga " Chega-te para lá que eu quero passar" - o Velho Arco mostra uma expressão simbólica de sacrificado, pois até o alacre enfiamento da Rua do Arco do Marquês de Alegrete lhe arrebataram".

Norberto de Araújo, Ciclo de Conferências O Pitoresco em Lisboa, Olisipo, Abril de 1952
Fotos (clicar nelas para ampliar):
Arco do Marquês de Alegrete
Arco de Santo André (1908)
Por cortesia do Arquivo Municipal de Lisboa

Sem comentários: