22 de fevereiro de 2007

Iñarritu irrita críticos portugueses


Os críticos de cinema do P, num gesto de solidariedade admirável, resolveram, por unanimidade e aclamação, solidarizar-se com a administração Bush e declararam Babel ferido de antiamericanismo primário. Até aqui, tudo bem, cada um acha o que lhe dá na bolha, seja ele americanófilo primário ou não. Até sou capaz de apostar que muita gente boa dos Usa vai ver o filme e gostar: serão todos anti-americanos? Se os chuis do filme agem como nazis, a culpa se calhar é dos média americanos que nos bombardeiam com cenas de polícias a sovar desalmadamente cidadâos, pretos de preferência. São americanas as imagens da tortura de prisioneiros no Iraque e Guantânamo, como americanas são as imagens de cenas chocantes na fronteira com o México. Pois é, mas os nossos críticos não esquecem Álamo, nem Pearl Harbour, nem o 11 de Setembro. Por isso eles amam a Rocky Balboa.

Bom, com tudo isto, a gente fica mesmo sem saber se o filme é mesmo tão mau que mereça o linchamento (como se sabe uma invenção do americano Lynch, não o David) e por isso as salas onde o filme persiste continuam a registar boas audiências. Azar dos távoras. Por mim confesso que continuo a prefirir o "Amores perros", mas Babel, meus caros, está longe de ser um mau filme. A propósito, também gosto muito de "O triunfo da vontade" da Leni Riefenstahl, apesar de nazi primário e de Intolerance, apesar de americano primário, e do Couraçado Potemkine, apesar de comunista primário. E também não perceberam o que faz lá a espingarda do japonês, coitados. Não sabem que em 1853 foi o comodoro americano Perry que forçou os japoneses a abrirem os seus portos ao comércio dos usa. Azar dos távoras, que eles aprenderam bem depressa. Em resumo, continuem a ler as críticas, mas não se fiem nos críticos que utilizam argumentação primária e sectária.

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