6 de fevereiro de 2006

Sobre mitos urbanos e medos esporádicos

Estava a pensar em duas coisas, por esta mesma ordem: os mitos urbanos de que o Azinho falava ontem e sobre o que o Fénix disse,  que postamos muito e reflectimos pouco.
Por isso resolvi contar uma história que se tornou um mito urbano da Praça de Espanha.
Factos?
Dois indianos ou paquistaneses envolveram-se em violenta discussão perto da mesquita. Um empunha uma faca e usa-a como argumento. E foge. Ao mesmo tempo saía da Comuna, o técnico de luzes, para apanhar o seu costumeiro táxi para o Estoril. É esfaqueado também, ainda anda um bocado e cai morto ao pé da paragem de táxis. Sai do metro uma senhora, que também é esfaqueada. Temos a Praça de ESpanha ensanguentada ao fim da tarde e o assassino à solta.
Penso, não tenho a certeza, se o senhor estará preso no momento. O amigo que sobreviveu identificou-o e denunciou-o.
Durante meses se contaram e ainda contam histórias sobre isso. Falam-se de mais crimes, encobertos para não assustar a população. Instalou-se a psicose da Praça de Espanha Quando houve outro crime na Avenida de Berna,disseram logo: pronto foi o assassino da Praça de ESpanha.
Qualquer indíviduo de cor mais acastanhada era olhado com suspeita e as pessoas tendiam a afastar-se dele o mais rapidamente possivel. Dado que a mesquita se situa mesmo nesta área, a situação não era muito cómoda . O caso é que a zona ficou como que assombrada e pouco atractiva. Bem, para falar verdade, já era um caos urbanístico nojento.
Hoje para variar vim de autocarro para o trabalho. Atravessei a Praça de Espanha mesmo pelo local mais recôndito. Estava um sol a estalar de novo e até se ouviam passarinhos. Não estava a pensar muito em nada, a não ser que já tinha resolvido uma data de assuntos e que vida é boa comigo duma forma geral.
Não vi nenhum indíviduo acastanhado. A não ser as simpáticas negras das limpezas que encheram o autocaro na Av de Berna, num enorme chilreado.
Qual o tempo de validade para um mito urbano? Porque é que às vezes temos medo e outras vezes não? A Lessing ( que continuo a ler, 2º volume) conta que sempre passeou em zonas complicadas e sozinhas e nunca teve medo de assédios e quanto muito lhe mostraram uma pilinha esquálida, a que ela pouco ligou. Diz que agora não é assim: qualquer assobiadela ou boca é logo considerada assédio. Que o medo está institucionalizado, para não falar da atitude em relação ao sexo.
A sociedade mudou é um facto. Mas também quanto aconteceu o Jack The Ripper as pessoas tiveram medo e instalou-se a histeria colectiva.Ainda conheço pouco a lógica do medo. E é uma coisa que me fascina. Estou já a perorar muito, eu sei.Não tenho conclusões para tirar. Sorry.

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