8 de fevereiro de 2006
returning to the cold cow, ou a ainda questão das caricaturas, a liberdade de imprensa, a xenofobia e outras minudências.
a questão dos cartoons do profeta maomé tem tido (no ocidente) dois tipos, ou grandes blocos, de opiniões que passo a descrever (se houver mais igualmente relevantes, sintam-se á vontade para mas cascarem em cima)
uma
clama contra os desenhadores que desenharam o que desenharam, porque uma 'brincadeira' sua desencadeou uma crise sobre a europa que pode acabar mal para muita gente.
(uma espécie de reacção ao estilo standard diácono remédios do 'não havia necessidade')
outra,
reivindica a total liberdade de pensamento e de expressão desse pensamento, sem constrangimentos.
a minha opinião está, obviamente, mais próxima da segunda.
citando de cor o voltaire, agora tão citado, a propósito de uma carta sua a um bispo francês: 'não concordo com uma linha do que escreve, mas defenderei até á morte o seu direito de as escrever', gostaria de acrescer alguns pontos à questão.
o jornal dinamarquês que publicou os cartoons está longe, muito longe, de estar inocente neste assunto.
é conhecido por ser um jornal próximo dos sectores mais conservadores e xenófobos da direita dinamarquesa.
recusou publicar, há 3 anos, um conjunto de caricaturas sobre a ressurreição de cristo do desenhador christiffer zeiler, argumentando que podiam ser ofensivas e não terem piada. mas achou que confundir um outro credo religioso com uma parte dos seus seguidores já não seria ofensivo.
eu posso achar absurdo que se coloque um turbante em forma de bomba na cabeça do profeta maomé, como acharia absurdo que se colocasse um preservativo no nariz de cristo (acharia normal e recomendável que se colocasse a bomba na cabeça do imã de uma mesquita qualquer e o preservativo no nariz do papa), mas defendo o direito da direita xenófoba dinamarquesa a fazê-lo, do mesmo modo que defendo o meu direito a chamar reaccionários e xenófobos a alguns dos desenhadores, aos responsáveis do jornal em causa, e aos que responsáveis muçulmanos que têm vindo a alimentar estes protestos desta forma).
muitos de nós (eu incluido) acusam de excessivo e absurdo o modo como uma parte (e reafirmo, ‘uma parte’) do mundo islâmico tem reagido à figuração do profeta.
na base da revolta está o argumento do corão proibir a representação em esculturas ou desenhos/pinturas do profeta.
na verdade, não só isso não está escrito no corão (o que lá está é a condenação do culto a estátuas e imagens de ídolos 'infieis') como durante muitos anos o profeta foi representado em diversas pinturas.
o que se passa é que as sociedade muçulmanas 'regrediram' imenso no que respeita à sua secularização e à sua tolerância religiosa.
uma boa parte dessa radicalização, podem os poderes ocidentais reivindicar para si próprios.
todas as tentativas de governos seculares nos países árabes foram sendo acusadas de esquerdistas, terroristas, não-alinhadas, ditatoriais e perigosas para o equilíbrio das potencias ocidentais e o que se foi passando no egipto, no iraque, no irão, no afeganistão, na argélia, na síria, no libano, no iemen (para citar apenas alguns exemplos diferenciados no estilo de secularização) foi que o ocidente sempre se apoiou nas forças mais retrógadas e beatas para combater os governos seculares.
e sempre fizeram o seu trabalho de 'arregimentação' de apoios com base no apelo dos poderes religiosos islâmicos.
simplificando a coisa, digamos que o ocidente está a colher muito do que semeou.
convém portanto não simplificar o que não é simples.
não generalizar o que é particular
e aguentar o embate porque é também a nossa liberdade de sermos como somos que está em causa.
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