10 de janeiro de 2006
a campanha providencial
o passeio triunfal do cavaco pelas ruas de portugal (e particularmente o de cascais no fim de semana) é um acontecimento digno de análise pelos sociólogos da nossa praça.
as televisões mostram mulheres a beijarem as mãos do putativo presidente como se do papa, o cristo messias, ou um relicário com pernas se tratasse.
gritam de longe e de perto que ele vai ser a salvação de portugal e que é a última esperança para tirar o país do buraco pútrido onde se encontra.
enquanto isto, o putativo proclama que os politicos portugueses não são bem vistos no estrangeiro (imagino que ele tenha nacionalidade de um qualquer protectorado britânico).
grita ao povo a recusa da presença de líderes partidários na sua campanha ao mesmo tempo que se passeia com eles por tudo quanto é sitio (o que não é mal nenhum em sí: apenas o negar as evidência seja um pouco falta de espinha moral).
proclama que os politicos não devem estar agarrados aos lugares e no fim de semana falava que esta era uma viragem para os próximos 5, 10, e talvez até 15 anos!!!!
estranho que ninguém tenha reparado nesta afirmação dos 15 anos, que só pode querer dizer duas coisas: é burro e não sabe que só pode ser eleito duas vezes.. ou está a contar com a direita para alterar a constituição de modo a permitir 3 eleições seguidas: em qualquer dos casos é grave que o tenha dito.
conta com a direita para o apoiar, mas ontem falava do apoio do psd e de 'um outro partido' (sic !!!), recusando falar no nome do 'contaminado' cds.
este assunto do cavaco coloca-me duas questões:
1.
o medo da esquerda pela eleição do cavaco
medo absolutamente estulto e sem razão.
o cavaco vai ser obviamente eleito presidente da república mas, ao contrário do que pensam os seus adoradores, a capacidade legislativa dele é nula.
da pena dele jamais sairá uma lei.
quem acha que ele vai salvar o que quer que seja do que quer que for... ilude-se
ele vai fazer rigorosamente o mesmo que fez o eanes (situado na mesma posição relativamente ao espectro politico e aos politicos e igualmente salvador da pátria aquando da campanha eleitoral):
vai promulgar leis, umas a dizer que concorda e outras a dizer que não.
ele vai fazer o mesmo que os presidentes de esquerda com governos de direita: promulga porque é isso que tem a obrigação constitucional de fazer desde que não existam inconstitucionalidades. (isto para além do facto de dificilmente um governo de direita conseguir fazer o que este governo do sócrates tem feito em favor das pretensões da direita).
os problemas que o cavaco poderá colocar são coisas comezinhas tipo se marca o referendo sobre o aborto mais ou menos tarde.
coisas que se podem contornar com leis aprovadas no parlamento, desde que as maiorias o queiram realmente.
a abstronça ideia de que ele pode influenciar ou inverter politicas governativas é tão ingénua como achar que rezando aos céus vem chuva.
há quem acredite que resulta. eu sei
também há quem acredite no cavaco.
2.
a euforia da direita pela sua eleição
retirando o pormenor do jardim dizer que finalmente, ao fim de 30 anos, se vai ter um presidente que não é de socialista (como se o eanes fosse socialista onde quer que fosse...), a verdade é que a vitória do cavaco vai dar um enorme fôlego à direita que rapidamente vai começar a exigir eleições antecipadas.
isto para além da minudência de dar uma tareia na esquerda (a avaliar pelas sondagens e as expectativas).
mas retirando estas pequeníssimas (do ponto de vista prático) coisas a direita ganha apenas isso:
uma vitória contra a esquerda numa eleição nacional.
nisso o alegre tem absoluta razão quando dizia que a eleição do cavaco não lhe ia tirar o sono.
estes considerandos podem levar os meus amigos (e principalmente os outros) a pensar duas coisas:
1. o gajo sabe que vai perder e está a arranjar desculpas
2. o gajo sabe que vai perder e desistiu de contrariar as evidências.
errado meus caros amigos !!!
a ideia de ver o cavaco 10 anos (ou 15 como ele já afirmou) como presidente provoca-me urticária.
e isso não tem a ver com o medo dos poderes que ele vai ter!!!
o que me provoca urticária é ter concidadãos que acham que o presidente da república, num país com a nossa constituição, vai resolver alguma coisa.
o que me provoca urticária é ver um homem que é o maior bluff da nossa história recente ser olhado como messias por uma parte considerável da população portuguesa
o que me provoca urticária não é ter que ouvir a direita vitoriosa (tem absoluto direito a encher a rotunda do marquês e trepar à estátua), é ouvir gente inteligente a, realmente, achar que ele vai salvar não sei bem o quê, não sei bem com que poderes
o que me provoca urticária não é saber que vou perder: toda a vida perdi eleições e não mudo de ideias por causa disso.
o que provoca urticária é a vacuidade tornada mito
o que provoca urticária é, por exemplo, quando ontem confrontado com a recusa de apoio, há 15 anos, aos industriais vidreiros para a recuperação da indústria, afirmar que está ali para falar do futuro.... e ninguém lhe atirar um pano encharcado na tromba.
o que me provoca urticária é o cavaco itself
(sim. o it é propositado)
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