Já andava a estranhar há algum tempo não encontrar aqueles panfletos com uma programação cinematográfica excelente nem nas faculdades de Lisboa nem nos bares do Bairro Alto. Outro dia tinha pesquisado na net e não tinha encontrado nada. Hoje, ironicamente depois de um filme péssimo que odeio ter gostado (as mamas da Cameron Diaz estão a ficar maiores), fui até lá: o Cinema Ávila está para arrendar, há um número de telefone colado no vidro da entrada, que está fechada.
Digam-me que não é verdade: o Cinema Ávila, com os seus ciclos de cinema de excelência, a preços viciantes, bons horários, todos os dias da semana e facilidade de estacionamento, fechou?! Não pode ser verdade!
Ainda outro dia conversava com uma nossa colega blogadora sobre o facto de o King estar cada vez mais vazio, em todos os dias da semana, em todos os horários, o que quer que seja que esteja em cartaz. Dizia-lhe que se o King estivesse para fechar lá viriam os abaixo-assinados subscritos pelos intelectuais do costume que se indignam com as forças desumanas do sistema de mercado, mas que só se lembram que espaços como o King existem quando estes estão para aparecer nas necrologias. Agora, no entanto, parece que não houve abaixo-assinados, nem intelectuais, nem necrologias: silenciosamente, secretamente, o Ávila morreu.
Fiquei de mãos caídas, nariz no vidro frio, a contemplar o vazio sombrio do meu cinema favorito fechado. Era um esconderijo assíduo e quase sempre disponível. Ávila, Gulbenkian, um livro e um caderno e tinha-se uma tarde programada. Agora, é só mais uma das minhas tocas entupidas para sempre.
Será que dou azar ao melhor de Lisboa?
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