25 de maio de 2005

Portugal Preppy (1)

As minhas clientes com sapatorras da Nike nos pés... uma alemã ao meu lado no metro com um pé redondinho, macio e lindo numa sandália vermelha comprada nos chineses... um post vai sendo escrito na minha cabeça. Agora é passá-lo a limpo.


Introdução

A questão científica interessante e pertinente não é o “como”, é o “porquê”. Porque razão vai uma família inteira ao gorduroso e indigente McDonalds vestida como se fosse à ópera? Porque razão a dona de casa típica faz compras no Feira Nova com um casaco caro mesmo em dia de grande calor às três da tarde? Porque razão os estudantes universitários usam camisas mais caras que as do papá e as estudantes universitárias estão mais interessadas em parecer ricas do que em parecer sexy e utilizam penteados como os da mamã que por sua vez escolheu o penteado que vinha numa revista espanhola de “gente fina”? Porque razão passou Portugal de sociedade de remediados que se vestiam na feira para sociedade de novos-ricos que se vestem nos centros comerciais?

Uma das primeiras e mais marcantes impressões que tive há uns anos atrás quando fui a Berlim foi isto: na capital da terceira maior e mais poderosa economia do planeta, as pessoas vestiam-se mal. As pessoas vestiam-se mesmo muito mal. E não era só os velhos ou os que já não estavam para engates, eram todos: os novos, os de meia-idade, os estudantes, os trabalhadores, todos! As pessoas usavam roupa sem ligar às combinações de cores, ao estilo ou à moda: casaco verde com calças vermelhas, uns castanhos horrorosos, impermeáveis velhíssimos, roupas que desde meados dos anos 80 já ninguém se atrevia a usar em Portugal. De facto, as pessoas em Berlim vestiam... qualquer coisa.

Antes de ir a Amesterdão, havia quem me dissesse que lá as pessoas tinham todas um estilo diferente. Quando lá fui, percebi que de “estilo” não tinham nada: as pessoas vestiam-se com roupas em segunda ou terceira mão compradas na feira ou directamente aos vizinhos. O estilo deles era, afinal, o mesmo do Portugal remediado (e já esquecido) dos anos 80: nenhum, ou seja, vestir o que calhasse, vestir o que servisse e não estivesse estragado e, sobretudo, vestir o que servia e era barato. Sim, roupa de feira.

Em Viena a mesma coisa: as feiras cheias de gente a comprar roupa... Em Londres, Roma,... Porque será? E porque será que num país muitíssimo mais pobre, Portugal, as pessoas optam por comprar em primeira mão, em centro comercial e de marca?

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