10 de novembro de 2004

palestina, israel e as ideias feitas que temos sobre os povos

há uns anos atrás, para participar numa espécie de workshop de música sefardita (a música da tradição judaica da península), passei duas semanas em israel.
fui com um grupo de amigos que cantam comigo e integrado num qualquer festival que ocorria em jerusalém.

fiquei colocado numa residência universitária no monte contíguo aos das oliveira, com a janela do meu quarto virada para a mesquita da pedra (ou esplanada das mesquitas, como se identifica mais agora).
acordava todos os dias com a magnifica visão do sol sobre aquela cúpula dourada.

antes de chegar a israel tinha uma série de ideias feitas sobre o país e os seus habitantes e, digamos, nenhuma delas particularmente positiva.

acho que todos nós temos tendência para catalogar os países e os povos de uma determinada maneira: são simpáticos, sãos umas bestas, são cultos, são estúpidos, são isto, são aquilo.... fica bem em tom coloquial dizer: "quem? os ...........? esse povo é uma simpatia, democratas, abertos... nós é que......". ou o oposto.
mostra aos outros que até sabemos 'daquele' povo e como dizemos generalidades, nem dá para começar uma discussão que aprofunde a coisa.

durante essa estadia, fomos fazer um concerto a jaffa, onde pernoitei na casa de um israelita.
durante o jantar, e enquanto falávamos sobre israel, a palestina, as origens argentinas dos meus anfitriões e outros assuntos colaterais, fomos chegando a várias conclusões:
como eu era português e os portugueses são todos católicos e nunca comem carne à sexta feira, fizeram-me um jantar de peixe.
quem me conhece, sabe que, eu sendo português, não sou católico (nem de outra qualquer religião) e como carne ou peixe dependendo apenas do meu apetite e da disponibilidade dos mesmos no local.
o meu anfitrião, sendo israelita, não era judeu do ponto de vista religioso (era ateu, tal como eu) e apenas se considerava judeu do ponto de vista da herança cultural (só não comia carne de porco porque a isso nunca foi habituado nem a mesma estava disponível no local).
achava, como eu, que os palestinianos tinham direito à sua pátria, tal como os israelitas tinham direito à sua. e achava que eles tinha direito à sua pátria ali. ao lado nos israelitas, porque ambos se podiam reivindicar daquele território e daquela herança cultural.
tal como eu, achava os judeus ultra-ortodoxos (que ele dizia existirem apenas em jerusalem, antuérpia, amesterdão e nos colonatos. em jaffa eram apenas 3% da população, mas em jerusalém são mais de 10%) são 'seres de outro planeta' que não reconhecem o estado de israel e se resusam a lutar por ele, mas que se aproveitam de todas as facilidades que este lhes dá para manterem a sua obstinada aitude "anti-social" e cultural (aproveitando-se do facto de poderem desequilibrar o lado do poder, têm muito mais poder do que o número de pessoas que realmente os defende).
fiquei a saber que foi para israel, não com o sonho de ajudar a criar um poderoso estado judaico, mas apenas com a ilusão de criar uma sociedade baseada na entre-ajuda de pessoas que queriam fazer um mundo melhor.

o que se passou com este israelita, passou-se com mais gente num kibutz que visitei (onde a vida não é tão 'e o sol brilhará para todos nós' como alguns apregoam, e que tem imensas dificuldades em manter os adolescentes no seu seio, demasiado atraídos pelos confortos da sociedade. por muito que alguns depois regressem quando verificam que esse conforto é mais o brilho do néon), passou-se nos cafés onde tinha conversas de circunstância, como se passou no campo de refugiados palestianos que atravessei.
mas a estes lá chegarei...

posso não ter tido uma amostra muito significativa do povos israelita e palestiniano com que falei e me cruzei naquelas paragens... mas seguramente voltei com uma imagem muito diferente do que aquela com que parti daqui (para além da dúzia de músicas que aprendi).

voltarei a este assunto... com as impressões dos contactos com os palestinianos...

é só para o poste não ser muito longo....

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