Meus caros desconhecidos
Tenho duas janelas novas. Viradas para as ruas onde os romanos andaram há muitos anos atrás. A janela que está atrás de mim dá para duas esplanadas que nesta altura do ano estão cheias de gente. Gente de todas as origens, cores e feitios.
Através das minhas janelas novas chegam cores, aromas e sons que me embalam no trabalho (as duas últimas petições sairam-me mais poéticas do que o habitual).
Gostava que vocês vissem o mundo pelas minhas janelas novas. É mais colorido, com menos ratos de biblioteca e com mais ratas de esplanada. É um mundo bonito este. Claro que como fico mesmo em frente aos Paços do Concelho vejo sair o ginecologista que exerce as funções de Presidente da Câmara. É o traço cinzento no colorido que passa pelas minhas janelas de guilhotina.
A partir de agora as janelas não são minhas. São vossas. Vejam nelas o que quiserem. A nada quero chamar meu. Não quero ser proprietário para não usufruir do que me não pertence. "Toda a propriedade é um roubo"... lembram-se?
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