era para postar a propósito da recente ainda maior violência sobre os sem abrigos de são paulo e lembrei-me dos 'pavilhão 9 e do seu mais que excelente disco 'se deus vier que venha armado' e da excelente música 'execução sumária', mas achei que o hip-pop não fazia o estilo de linguagem dos postadores desta casa e talvez nem estivessem muito interessados em saber que esta semana os esquadrões de limpeza de são paulo já tinham morto 10 sem abrigo.
lembrei-me de um documentário de ontem na 2, em que a autora tinha passado uma semana como sem abrigo em londres. lembrei-me o seu espanto pela indiferença das pessoas que passam. o seu espanto pela solidariedade entre os que vivem na rua. pelo amor entre duas pessoas que viu nascer e crescer.
pelo regresso á pré-história em que metade do dia é consumido a procurar alimento e a outra metade a procurar abrigo para dormir.
lembrei-me, a propósito disso, de uma tese sobre a invisibilidade humana que um brasileiro escreveu relatando a sua experiência como trabalhador da limpeza num hospital em que até alguns colegas dele, professores como ele, o não reconheciam por nem sequer olharem para ele.
e lembrei-me de um tipo que um dia me veio pedir um cigarro no meio da washington square de nova iorque porque eu lhe estava a tirar uma foto.
ficámos a falar perto de 2 horas.
fazia parte duma imensa comunidade que vive sob as ruas de nova iorque. os 'mole people'
alguns vivem lá em baixo e trabalham sem sair á luz do dia.
outros são mendigos á superfície
outros têm trabalhos normais e regressam aos subterrâneos ao fim do dia.
lembrei-me que andamos muito distraidos
lembrei-me que não olhamos para os outros
lembrei-me que ignoramos o que se passa á nossa volta
lembrei-me que nos preocupamos (ou alegramos) com a derrota do benfica, a medalha do francis, o último disco do tom waits, o livro do eric idle
lembrei-me que nos esquecemos
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