S. Vicente nasceu, provavelmente, em Huesca, nos Pirinéus, numa época de
intensas perseguições religiosas. Filho de pais cristãos, muito novo foi
elevado à ordem de Diácono e, mais tarde, a acólito de Valério,
Bispo de Saragoça, mercê dos seus reconhecidos dotes de orador.
Supliciado em Valencia, com o seu Bispo, por ordem do governador
da Hispânia, Daciano, em princípios do século IV, o culto ao
mártir São Vicente espalhou-se rapidamente por toda a Península,
sobretudo durante o domínio muçulmano, mantendo a sua vitalidade
até meados do século XII.
As circunstâncias, controversas, da descoberta e recolha das relíquias
do santo, alimentaram, de facto, a resistência das populações cristãs
meridionais, os moçárabes, contribuindo para tornar São Vicente o
santo padroeiro do novo reino. O culto vicentino não deixou, porém,
de atrair outros peregrinos, em que se incluíam os cristãos do norte
e, mesmo, populações muçulmanas.
Os relatos hagiográficos conservados coincidem no episódio do
achamento do corpo, junto ao cabo de São Vicente, à deriva numa
barca guardada por dois corvos, atributos iconográficos que serão
constantes nas representações posteriores do mártir, pelo menos na
arte portuguesa, e adoptados como emblema municipal da cidade de
Lisboa ainda durante a primeira dinastia. Algumas narrativas
plásticas incluem, ainda, a característica palma do martírio,
o molho de cordas e as vestes de diácono, e é assim que o
encontramos nas paradigmáticas tábuas quatrocentistas devidas
a Nuno Gonçalves, pintadas para o altar de São Vicente da Sé
de Lisboa. O culto ao santo estava já, nessa época, em franca
decadência, praticamente limitado à aristocracia e à família
real, esta, certamente, lembrada do especial fervor de D. Afonso
Henriques, que mandara vir expressamente de Sagres as relíquias
sagradas e que lhe dedicara, na Lisboa recém conquistada (1147),
a sua mais importante fundação religiosa.
Os atributos deste santo, a sua hagiografia, não são mais do
que uma actualização de uma simbólica pagã: a chegada do
cadáver do santo numa barca tal qual os cultos orientais
e osirícos; os corvos, companheiros de viagem do féretro
guardiães da luz e prováveis avatares do deus proto-histórico Lug.
in
" http://www.ippar.pt/
sites_externos/sagres/Siteport/svicente.htm"
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