11 de agosto de 2003

TODA A VERDADE (isto é uma opinião)

Muito bem: os portugueses andam sempre a dizer mal, dizem que no estrangeiro é que é, sentem-se na cauda da Europa, que Portugal é muito mau, etc.. Será isto masoquismo, auto-crítica, gosto pela comiseração? Nada disso: para masoquismo não têm os portugueses gosto por sofrer (se o tivessem seriam mais trabalhadores); de auto-crítica não parece ser o caso pois quem se critica a si mesmo também resolve sozinho e pela própria cabeça os seus problemas (o que não parece ser típico do país); gosto pela comiseração de si mesmo: sim alguma, mas isto não explica tudo.

O que essa cantilena da infelicidade pátria é é isto: espírito passivo de observação. Os portugueses reconhecem a verdade, toda a verdade mas nada fazem para a mudar.

Mais boa educação nas ruas e nas estradas, mais paciência em toda a parte, mais respeito pela privacidade dos outros, menos bisbilhotice, mais tolerância, mais criatividade, mais pensar pela própria cabeça: é isto que falta e é o reconhecimento das consequências dessas faltas que nos leva acertadamente a dizer que lá fora é que é bom.

Que se possa entornar uma feijoada sobre os pés sem que todo o Colombo saiba, que se possa trocar de gabinete sem ter todos os colegas a especular as razões da mudança, que se possa sair com uma palavra torta sem ter o patrão a saber nessa tarde, que se possa mudar de casa sem ter toda a gente a interessar-se pelo novo vizinho. Isto na vida privada.

Que se pense e se decida sem usar o argumento de que lá fora é assim e já se faz assim há muito; que não se espere pelas soluções europeias; que não se leiam os editoriais dos jornais estrangeiros para formular uma opinião sobre o próprio país; que não se vá copiar o teatro às capitais europeias e apresentá-lo aqui a quem o desconhece; que não se vá plagiar grupos musicais pouco conhecidos, comediantes britânicos antigos, escritores contemporâneos não traduzidos e apresentar o produto da cópia como magnífica novidade. Isto na vida pública.

Ricardo

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