Ou porque me desconcentrei, ou porque me distraí, ou porque falhei algum dos rituais quotidianos, algo muito estranho sucedeu: o dia foi bom.
Escrevi uma carta. Acordei cedo e fui a uma papelaria onde encontrei folhas bonitas, e envelopes também. Há muito tempo que não escrevia assim, tinta sincera sobre papel verdadeiro, palavras tão minhas que receio desmerecerem os olhos e o tempo e as mãos onde serão acolhidas.
Comprei bolachas e gelado, que não derreteu no caminho para casa.
À tarde o céu trovejou-se de cinzentos, e houve chuva, breve, cálida, sonolenta chuva. Beijei umas quantas gotas em mim choradas. Choveu e tenho um sorriso que o prova.
Perdi uma hora com o final da etapa da volta a Portugal, e ganhou o sujeitinho por quem estava a torcer.
Houve ainda tempo para folhear o espólio da sortida matinal à biblioteca: Léah, de José Rodrigues Miguéis, Bela do Senhor, de Albert Cohen - recomendações da muito estimada anfitriã -, e ainda O Assassínio do Perdedor, de Camilo José Cela - em ofensa directa aos gostos da nossa Teresinha. E tempo para a Ella.
À noite, visitas familiares com crias pequenas. Inesperadamente, dei por mim brincando com as crianças. Pior: gostando. Fugi de imediato. Estou habituado a ter pavor de bebés, fobia intensa de crianças, e há que preservar os valores adquiridos.
E quando me preparava para imprimir em definitivo estas linhas, encontrei na caixinha um email sorridente e recebi um telefonema tão bonito e com gatos do outro lado.
Um dia assim, belo? Onde foi que eu errei?
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