22 de março de 2013

Óscar Lopes ou quando o silêncio grita



Morreu Óscar Lopes. Guarda-se, dos tempos de juventude, a obra de autoria conjunta com António José Saraiva,  História da Literatura Portuguesa, sempre rigorosa e um título de referência para professores e alunos de Língua e Literatura. Seria exaustiva a listagem do grande legado que ficou, correndo-se o risco de diversos lapsos. Ficará  a menção ao contributo dado às publicações Seara Nova, Vértice e Mundo Literário. Sem tempo para ler o jornal, acabo de me deter, sem entusiasmo,  no noticiário televisivo… Nem uma palavra sobre o seu desaparecimento, quase após uma hora de emissão pouco profícua (desiste-se da espera...). Ao invés, desfilam, nos destaques, a referência ao comentador da RTP prestes a entrar em funções (e petições pró e contra...), aos candidatos às eleições num clube de futebol, a um cantor que comemora 50 anos de carreira (e cujo nome também terá a ver com a dita), às discussões acesas em torno de uma moção de censura ao governo, a par de dois nomes sonantes de Holywood, hoje na invicta… Estranhos tempos, os que vivemos. Há dias, comentava-se o facto de uma nota de imprensa divulgada a órgãos de comunicação que, por vezes, batem à porta pedindo opiniões técnicas,  ter ficado na gaveta (houve quem telefonasse no dia do evento, a demonstrar confusão de datas, embora a mensagem tivesse sido clara e enviada com a devida antecedência)… Nela se apresentava um evento cultural com interesse para… professores. Um dos participantes, de inquestionável currículo, ao ouvir o desabafo, afirmou «se os professores, ao invés de discutirem questões técnicas e científicas, estivessem a experimentar, em abundância, todos os vinhos, à hora do almoço, aí, sim,  teriam visibilidade». Fica-se em silêncio, ouvindo silêncios que gritam mais do que as manchetes.

P.S: pensamentos que deveriam ficar só com a própria : será que a escolha de notícias se prende com quem tem a responsabilidade de as tornar destaque,  ou com o que se interpreta como sendo o gosto dos destinatários?

Imagem: blogue «A inocência descompensada»

3 comentários:

Luísa disse...

Por acaso vi na televisão a referência à morte do professor. Não sei se na Sic ou se na Tvi (cá em casa salta-se de jornal para jornal, conforme eles estejam a ser repetitivos ou não). Mas foi quase: "Morreu professor Óscar Lopes, ponto!" Pensando bem, não sei quando é que alguém das letras (escritor, professor...) morreu e se fez uma referência decente, condizente com o estatuto da pessoa!! Maaaaas... se for para falar em leilões de manuscritos, mesmo que seja de um autor estrangeiro, eles até montam uma pecinha com imagens dos manuscritos e com sorte ainda vemos um martelo de leilão, é que a venda dos “papeluchos” dá dinheeeeiro!!

Isto acaba por ir ilustrar as respostas que podem ser dadas à sua pergunta final (que deve ser feita). A minha resposta à sua pergunta é simples: as duas hipóteses estão correctas!!
É a falta de critério na escolha da notícias; falta de critério de quem apresenta as notícias, faz a perguntas e afins (lembro-me de um otário de um jornalista perguntar à Sara Moreira, acabada de aterrar da Suécia, "o seu pai prometeu cortar o bigode, caso a Sara ganhasse, mas não o fez. Como se sente com isso?" Pergunta premente!!!!); é também o interesse de mostrar o que interessa para fazer bonito (não vou explicar, não quero problemas, nem para mim, nem para o “Dias”). Depoi s há o outro lado da medalha: quem “come o que lhes dão”, ou seja, nós, telespectadores. Se fossemos mais críticos, mais exigentes e o demonstrássemos nos canais existentes para isso (reclamar sentado no sofá da sala não adianta) talvez as coisas mudassem. Falando no ex que vai ser comentador (ele tem uma voz fanhosa… como é que o vão pôr na televisão?!), ontem ouvi que há 105mil assinaturas contra isso. Fazem uma petição contra ele na televisão pública, mas não fazem uma petição contra incompetentes nas notícias, nem conseguiram assinaturas suficientes para acabar com o acordo ortográfico que também nos entra em casa pela caixa mágica. Não fazem lutas contra programas aborrecidos, pesados. Contra apresentadores com imagem gasta que interrompem os entrevistados com piadas parolas, que fazem comentários discriminadores (estou a falar só do serviço público!) e por aí fora.
Assim, se as pessoas não são claras a demonstrar o seu agrado, quem faz as escolhas acaba por se sentir à vontade para encehr chouriços… Criando-se uma bola de neve gigante!!!

Luísa disse...

E depois de publicar o comentário é que vi que é gigante!! o_O

Desculpe, mas entusiasmei-me!!

teresa disse...

A ver vamos o que sucede ao jornalismo cultural, espécie em vias de extinção, todas as achegas me entusiasmam, Luísa, pelo que o comentário não é extenso e mereceu a melhor atenção :)

Os abaixo-assinados por esta via online, valem o que valem, quantos já passaram, nos últimos anos, e que resultados obtiveram (seja qual for a causa). Até soube de um em que uma pessoa foi atacada na sua honra e aqui, o recurso jurídico levou a que, em 2 dias, tivesse desaparecido desta rede...

Para salientar que «há sempre o outro lado», imaginemos os ganhos de audiências (com comentadores futuros ou outros assuntos), com a publicidade diária que lhes é dada nos 'media', mas não quero aprofundar muito o tema, pois daria um comentário 5 vezes maior do que o seu (já vai ficar mais extenso do que o post), que gostei de ler :)

Uma nota final (pois de quotidianos vividos também se vai consolidando a nossa opinião). Uma pessoa com visibilidade é contactada (e isto passou-se) «para dizer mal de um tema quente dos últimos tempos», é assim que lhe transmitem o recado ('dizer mal', 'atacar'), num programa de horário nobre.

Responde educadamente (o seu jeito é esse), dizendo terão escolhido a pessoa errada, pois a sua atitude será sempre a de explanar opiniões (para dizer mal, há as porteiras, diria eu), só que os tempos são, cada vez mais, feitos de «homens que mordem cães» e não da inversa... (também assisti a essa de 'cortar o bigode') :))) (ups! escrevi tanto, mas há coisas que são inevitáveis)