15 de julho de 2010
As cidades respiram e conversam connosco...
As cidades respiram e conversam connosco. Algumas acolhem-nos de imediato, outras, lentamente, deixam-se conhecer aos poucos, comprovando nem sempre serem as primeiras impressões a prevalecer . Desconheço o sentir-me ameaçada em enormes espaços citadinos, dado as ínfimas excepções não constituírem regra . Quando vagueio sem a companhia da família ou amigos por viajarem os mesmos em trabalho , tento escapar a subterrâneas viagens de metro, utilizando a norma de anotar num pequeno bloco pontos de referência para que – mesmo fazendo caminhadas de muitos quilómetros – possa refazer o trajecto até ao ponto de partida. O método tem, até à data, revelado eficácia, trazendo a vantagem de se poder mergulhar no espírito do local.
Talvez se encontre em tal prática a explicação de um pretenso ar de segurança de conhecedora e habitante de espaços ao longo desta cada vez mais pequena aldeia em que nos movimentamos. Vem a reflexão a propósito de ter sido interpelada em diversas latitudes com perguntas sobre a localização de um parque, de uma rua , de uma estação ou de um monumento acerca dos quais pouco ou nada terei ouvido falar, acabando sempre por explicar tratar-me de mera passageira em trânsito. Nas cidades com grandes rios, é fácil fazer trajectos pedestres ao longo dos cursos de água, aspecto apelativo e a facilitar referências. Diz-se que os povos do Norte de África valorizam a proximidade do mar ou das estradas fluviais, conseguindo permanecer horas a olhar as águas que reflectem brilhos solares, mas nunca confirmei se a teoria terá algum fundamento ou se consistirá em mais um estereótipo ao gosto de todos nós que, desesperadamente, nos tentamos alicerçar em pontos de referência, embora frequentemente tenha pensado em remotas heranças árabes a explicar a atracção por cidades orientadas para a imensidão líquida.
O espelho da nossa cidade branca traz-lhe uma identidade única – um Tejo a perder de vista , tantas vezes elogiado por quem do exterior nos visita. Numa capital a desbaratar vida própria, exceptuando pequenas zonas que se mantém residenciais, há que valorizar pequenas anotações a trazer memórias (vividas ou captadas em pinturas e velhas fotografias) e a colorir uma luminosidade que chega a ferir o olhar sob a luz solar do Verão. Nem sempre com tempo para atentar a detalhes por saltar de uns para outros meios de transporte, mesmo lamentando não poder fazer alguns trajectos a pé, surpreendeu agradavelmente esta pintura mural , tendo impressionado o facto de ser a mesma executada e assinada por um conjunto de artistas, constatação confirmada por uma outra já no início das Escadinhas do Duque.
Tentando partilhar memórias com uma filha jovem e ávida ouvinte que, em breve, irá dar início ao iniciático ritual citadino (com era tudo diferente no passado, começando-se na infância adiantada a descobrir becos, fontes, miradouros…) fui surpreendida por alguns aspectos curiosos que talvez em breve venha a retomar: desapareceu um local de descontraídas reuniões de juventude – mansarda empoeirada de onde avistávamos o castelo por entre fumegantes chávenas de «chá Mu» e conversas - tendo, em contrapartida, a montra de uma loja de memórias reavivado um passado com reflexos, até hoje, no quotidiano pessoal. O Tejo da minha infància é aquele que acredito perene.
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7 comentários:
Que texto maravilhoso :)))
Obrigado Teresa por este belo texto onde estive a 'relisboar-me' :))
Fico contente que tenhas gostado, Felicidade:)
Ainda bem que este conjunto de palavras proporcionou uma pequena viagem a Lisboa, Miguel Gil:)
Um belo exemplo de que ler é reviver um texto...
Gostei muito!
Os textos da Teresa respiram e dão asas. Felizmente:)
É engraçado como começo a escrever e, no final, há sempre muito a "cortar", pois espraio-me com facilidade.
O feedback é sempre bom, por isso é-me grato ocupar um bocadinho deste eapaço acolhedor que é o «Dias» :)
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