22 de junho de 2010

Os miúdos e a professora

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O autocarro está cheio de miudagem que se espalha  por todo o lado. As múltiplas etnias estão representadas e todos elas são bem diferentes. Assemelham-se num aspecto, são calmos e cordatos, nem barulho fazem. A professora a um canto e atenta ao que se passa, nunca eleva a voz. Os passageiros do 16, esses, estão encantados. Perguntam aos miúdos que notas tiveram, explicam que a escola antigamente era muito melhor e eles fitam-nos com incredulidade manifesta ao ver os exemplares produzidos pelo passado. Uma dessas passageiras resolve ser a porta-bandeira da boa educação e diz alto e em bom som, está ali um velhinho em pé, vou dar-lhe o lugar. E chama-o bem alto, apesar do dito velhinho todo esterlicado a ignorar, até chegarmos ao ponto dum senhor mais novo e não muito feliz por isso, perguntar se a oferta de lugar é para ele. Reposta a verdade, ninguém aceita a benesse. E assim ficamos.
Chega-se ao Arco do Cego e a professora diz tão baixo, como eu costumo falar, chegámos vamos saír e deixem passar os senhores primeiros. Assim acontece.
Diz a senhora que está ao meu lado a cuscar divertidamente como eu. Esta professora é uma heroína .Existam mais como ela. Disse tudo.
E é  este calor que tudo invade que talvez nos faça sorrir mais complacentemente. E sermos mais felizes.

Fotografia: Patrick Zachmann/Magnum Photos

8 comentários:

teresa disse...

Bonito texto, T, mas eu sou suspeita. Não me querendo alongar , a escola do passado seria sobretudo diferente, pois não era para todos e nem sequer se imaginaria - em tempos recuados - uma escola de diferentes etnias (seríamos mais emigrantes do que imigrantes, entre outros factores). Refiro-me à escola pública, é claro, pois escolas há onde ainda se encontra reservado o direito de admissão, sobretudo com base em 'dotes' intelectuais... Professora heróica ou não, um «viva» para os ensinantes que conseguem comunicar sem gritar (a diferença entre autoridade e autoritarismo, penso eu «de que»):)

Miguel Gil disse...

As coisa simples são as melhores.
Respeitarem-nos nasce no respeitá-los e sem procurar a imitação dos 'exemplares produzidos pelo passado'.
Os produtos do presente verificam que a escola antigamente era muito melhor, ensinava a falar alto em qualquer sítio.
Portugal está muito melhor!

T disse...

Uma professora pode fazer a diferença:)

T disse...

Bem melhor sim, Miguel:)

J A disse...

Pois, pois...os professores que aguentam a barra e conseguem agir deste modo....deviam ser os heróis desta sociedade (desculpa lá Ronaldo)....

T disse...

Também acho Júlio..Alguns professores, como a Teresa por exemplo:)

teresa disse...

Teresinha,
Em intervalo de correcção de exames, venho dizer só duas coisitas:
- não sei se me integro no rol, mas uma coisa que interiorizo como prática diária é manter o tom de voz esteticamente aceitável, o que tem sido até hoje retribuído;
- isso já me levou a sorrir por vezes em privado, pois há muito a leccionar no mesmo local, reparei que quando elementos exteriores ao espaço precisam de entrar subitamente na minha sala, comentam por que motivo nunca se ouve gritar (nem da minha parte, nem da dos jovens):)

T disse...

Tu és a rainha do rol:)