13 de março de 2010

COMEÇOS DE LIVROS






















Começo de “Com Chandler e Marlowe nos Bares do Cais do Sodré” de Eduardo Guerra Carneiro:

“Marlowe entra no “British-Bar”, despe a trincheira, sacode-a da chuva de Março que, em morrinha, como em Vigo ou no Porto, ainda pinga, atira o chapéu para o bengaleiro e pede um “gimlet” duplo.
Humphrey Bogart está ao balcão e sorri-lhe, de esguelha, com o paivante aceso ao canto da boca. A “magrinha” ainda não tinha chegado. Eu bebia gin tónico, numa mesa do canto com o Chandler. O Mário-Henrique Leiria não pôde vir: mandou recado a dizer para bebermos dois ou três copos por ele. Lauren Bacall chegou agora, senta-se à nossa mesa e pede-me um cigarro na sua voz rouca, inconfundível. Reparo que Bogey está com ciúmes. Como não quer a coisa, de uma velha telefonia vem uma música de piano: “Casablanca”. Afinal Bogart deve estar ainda à espera da Ingrid Bergman. Chandler, que nada tem a ver com isto, começa a falar da Cabeleira de Prata.”

Nota do editor: Em 1979, o “Diário de Lisboa”, publicou em folhetim “O Imenso Adeus” de Raymaond Chandler, numa brilhante tradução de Mário-Henrique Leiria. Cabe recordar que a apresentação do folhetim foi feita pelo Eduardo Guerra Carneiro, um belíssimo texto com o título “Com Chandler e Marlowe nos Bares do Cais do Sodré” publicado no “Diário de Lisboa” de 31 de Março de 1979, um sábado – caramba! isto já foi no século passado...
Por motivos que desconheçe, o Eduardo Guerra Carneiro, que saiba, nunca incluiu este texto nas antologias de crónicas que publicou. É pena.
Pensou, então, que não ficaria mal dar a conhecer um começo de crónica em vez de um começo de livro.
Chandler, Humphrey Bogart, Ingrid Bergmann, Mário-Henrique Leiria, Eduardo Guerra Carneiro: gente de que gosta muito e que já não anda por cá. Resta a “magrinha” , o Cais do Sodré e o “British-Bar”. Mas os “gins” já não são os mesmos.
Ou é ele que já não é o mesmo?
A ilustração é um “hors-texte” da autoria de Carlos Ferreiro e faz parte do livro de Eduardo Guerra Carneiro “Como Não Quer a Coisa”, uma edição da “& ETC.”, 1978

1 comentário:

César Ramos disse...

Boas,

Belo texto! Está para aqui pano para mangas e tema de um bom serão de palheta, para tocar uma noite inteira, acompanhados por gente que já não vive, mas que continua entre nós, disponível, Eterna (...)

Seria uma ceia de gente fantástica!
Com Gin à discrição...!

César Ramos