6 de janeiro de 2010

OS CINEMAS TAMBÉM SE ABATEM

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A notícia leu-a no suplemento “Actual” do “Expresso”. Começava assim:
“Morreu o cinema Nimas. Mas nasceu o espaço Nimas”.
O desenvolvimento da pequena notícia encaminha-o para ficar a saber que José Mário Branco pretende ali criar projectos artísticos que envolvem dança, teatro, música. Já se realizaram alguns espectáculos e já há programação para Janeiro e Fevereiro, sem se adiantarem pormenores.
De modo algum quer desconfiar destes meritórios propósitos das programações, mas acontece que ao tirar a fotografia deparou-se-lhe um deprimente estado de abandono, Sobre a programação que eventualmente venha a acontecer, no “Espaço Nimas” se saberá com o correr dos dias.
Mas o que hoje lhe importa registar é que Lisboa tem menos uma sala de cinema.
Image and video hosting by TinyPicUma sala simpática, bem situada, uma programação abrangente.Dezenas e dezenas e dezenas de filmes ali vistos.Lembra “Chove em Santiago” de Helvio Soto (1975) possivelmente o primeiro filme a denunciar o golpe perpetrado pelos Estados Unidos, no Chile de Salvador Allende, um genocidio hediondo. Numa entrevista à televisão, já na qualidade de presidente deposto, Richard Nixon, disse: “estavam aí em jogo os nossos interesses”
Recorda-se também do dia em que viu “O Último Mergulho” de João César Monteiro. Ele e um jovem umas filas à frente, os espectadores presentes na sala, ao que chamaria a sua sessão privada de um filme do João César.
Quando encetou este roteiro de cinemas de Lisboa que já não existem, estava muito longe de imaginar que o “Nimas” acabaria por integrar esta triste galeria.
Lisboa é uma cidade que preserva mal a sua memória, no caso presente a sua memória cinematográfica.O espectador de cinema lisboeta também tem as suas culpas.Abandonou cinemas como o “Nimas”,preferindo as salas dos centros comerciais, onde se empanturram de baldes de pipocas. Ou sentam-se frente ao televisor a ver DVDs.

Se a tanto chegar o gosto que (não) têm pela cidade, um dia hão-de lembrar-se de tudo isto. E, claro, de modo algum estarão bem no retrato.Quando passar na 5 de Outubro, lembrar-se-á que ali existia um cinema e agora , apenas, a promessa, de um espaço onde haverá dança, música, teatro.Faz um grande esforço para, minimamente, acreditar nisso.Já viu vezes demais filmes como este e sabe os finais.Lembrando o Zé Mário, apetece-lhe dizer que para este peditório já deu!...
A ver vamos, como diz o cego.
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8 comentários:

Luísa disse...

A última vez que estive em Lisboa fiquei bem triste quando vi que até a tabuleta do Quarteto já tinha deaparecido da beira da Av. dos EUA.Quanto ao Nimas... nada... nem passei perto...
Mas a semana passada lembrei-me dele, andei que tempos até me lebrar que filmes tinha lá visto. Pensei o que seria feito dele e... foi preciso vir aqui saber. Obrigada pela informação (ainda que seja um pouco triste).

T disse...

Não seria tão pessimista. O Alvalade desapareceu e deu lugar a umas boas salas de cinema. E o edifício do Nimas não era assim muito interessante. Preocupa-me mais o belo cinema da Alameda,o Império, que daria um excelente espaço cultural entregue à bicharada religiosa. Retirem-no e utilizem-no, se faz favor.

teresa disse...

O 'Chove em Santiago' é sempre um filme idissociável do Nimas, assim como a título pessoal a morte anunciada do Império ficará para sempre ligada ao fantástico 'Mulheres à beira de um ataque de nervos'. Quando vi por lá este filme senti que o fim do cinema estaria próximo (já que até os vidros quebrados tinham tiras de fita adesiva para não cairem). Tais lembranças trazem alguma nostalgia (no sentido de tristeza e saudosismo assumidos).

Julio Amorim disse...

"empanturram de baldes de pipocas"...a verdade é que estes baldes, dão maior lucro ao dono da sala....que o bilhete.
Mas o cinema é sagrado de mais para aturar infiéis com baldes. Entre isso e o DVD...fico pelo último.

luis tavares disse...

Pois os cinemas são como os cavalos.
A destruição do Jardim-Cinema, a mim ,particularmente me indigna!
E o Paris...
O Império, coitado,entregue a uma seita que já deveria ter sido posta a andar?

Filmes,agora é em casa, estreados antes do ecrã...

J. disse...

ha ja algum tempo que me perguntava o que seria feito do nimas, nunca o via na pagina dos cinemas. fui perguntando a uns e outros e ninguém sabia de nada... até que em novembro, parece-me, li algures que deveria haver la um concerto e percebi que as coisas tinham mudado, mas nunca pensei que o cinema "desaparecesse"...

talvez uma parte da "culpa" de ter vindo viver para frança seja dos muitos filmes franceses que vi naquela sala :(

também me lembro do bar, muitas vezes fechado, e das casas de banho parecerem as da casa de alguém e não de um cinema...

luis tavares disse...

Pois,J.-cinema francês e italiano! Todo o Goddard, não...Todo o Pasolini...

Enfim,Europa decrépita...mas nossa.

Gin-tonic disse...

Muito obrigado pelo convite, Wavegirl, mas ele de há muito é visita de "Cinemas do Paríso". E sendo aprendiz de tudo e oficial de nada, já por lá tem collhido bons ensinamentos. Pena que os post não sejam mais constantes. Mas ele compreende bem as dificuldades que estas coisas têm. Não desista!
Um abraço