NAS legislativas de Setembro perto de 40 por cento dos portugueses abstiveram-se de votar.
Uns não estão para se chatear, outros entendem que esta classe política não lhes serve.
LIDO, em 1 de Outubro, no blogue “Nocturno”
“A característica que mais me desgosta no povo português não é a sua congénita indolência – de raizes climatéricas, propendo a suspeitar –, nem a sua lamurienta resignação à mediocridade. É, sim, a tendência para dobrar a cerviz perante os fortes e aprumá-la perante os fracos. É a de, pelo mesmo princípio, alinhar pela defesa dos criminosos em detrimento das suas vítimas; ou tecer encómios aos vencedores e ser inclemente com os vencidos, tanto na guerra justa, como, sobretudo, na injusta. Sendo um povo compassivo e impressionável com a desgraça alheia, faz recuar, imediatamente, a mão que oferecia, se o desgraçado se revela um maltratado, um perseguido ou simplesmente um desprezado por algum poderoso. O temor de desagradar a este e de ofender a autoridade, que parece reconhecer-lhe, para ordenar as voltas do planeta e distribuir comendas e castigos é de molde a atrofiar a sua natureza generosa e a empolar a subserviência mesquinha e oportunista. No fundo, o povo português é apenas mais um fraco. E entre os fracos não há, verdadeiramente, nenhuma solidariedade, nem mesmo quando se atiçam neles os ardores revolucionários. Entre os fracos há só o desejo de ter um padrinho, um encosto ou um Dom Sebastião, que os honre com um punhado de migalhas e os liberte do abraço ignóbil, repugnante dos outros fracos.
Nota editorial: prometo não voltar a criticar o povo português. Afinal, contra mim falo. Sou portuguesa, sou fraca e partilho, portanto – como aqui deixo cabalmente demonstrado – o sentimento indigno do desdém pelos fracos… ou por certas fraquezas…”
A CINEASTA Teresa Vilaverde no “Público”: “Sem o entusiasmo das pessoas não há país que avance. Sem arte e sem cultura os países são tristes e não produzem nada. Sem a solidariedade para com os mais velhos e os mais pobres, somos todos uns canalhas. Um país de canalhas é um país que não vale nada.”
2 comentários:
E tudo isto traz à memória Eduardo Lourenço: "(...) o que surpreende nos Portugueses, é o facto de parecer terem decidido viver como os cristãos nas catacumbas. (...) porque não suportam ser olhados por quem ignore ou tenha esquecido a sua vida imaginária. Preferem então, a exemplo de Fernando Pessoa, ausentar-se de si mesmos e outorgar-se, (...) o próprio estatuto da ausência. Uma ausência onde tudo e nada são indefinidamente reversíveis"
Não sou nada
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo.
Eduardo Lourenço, Portugal como destino seguido de mitologia da saudade
... esta pequena varanda sobre o mar constituirá (também ela) uma das chaves para a explicação?
se, ao menos, fossem só os portugueses... mas não... não são só os portugueses... o que ainda é mais triste...
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