1 de agosto de 2009

PORQUE HOJE É SÁBADO

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“Vista Parcial duma Aldeia Duriense”

Há nesta aldeia oitocentas almas,
Mas vinte, pelo menos, têm o corpo
Lá longe, em terras de África. É a guerra.
As cartas vão chegando como sopros.

Chegam as cartas e algumas notas de banco.
O sô Manso já comprou um fogão a gás.
Enquanto o filho arrisca a pele, ele
Vive um pouco melhor. Coisas da paz.

De lá perguntam como vai a cava,
Se as raparigas têm paciência, claro!
Se o vinho é bom, se os filhos obedecem.

Aqui, o dia vem depois da noite,
Mastigam-se as ideias com o caldo
E, às vezes, as mulheres empalidecem.

António Cabral em “Os Homens Cantam a Nordeste”

2 comentários:

teresa disse...

Um bonito texto que me fez viajar através da memória até uma aldeia do nordeste transmontano que tem (tinha há cerca de 12 anos, hoje talvez sejam menos) 320 habitantes e onde se viveu a experi9encia de um Carnaval excepcionalmente 'nevado', o que levou os simpáticos anfitrioes a dizer que tal excepçao era uma oferta generosa para os visitantes.

carlos disse...

esta colecção 'nova realidade' tinha livros excelentes...