14 de julho de 2009
SÍTIOS POR ONDE ELE ANDOU
Chamaram-lhe “Objectivo Burma”, a lembrar um muito velho filme de Raoul Walsh com o Errol Flynn. Sobre o filme o Jorge Silva Melo tem a teoria de que os capitães de Abril, antes de partir para as colónias, terão visto o filme e aí aprendido a combater, a sobreviver, no mato. E acrescenta: “Mas eu gostaria de pensar que foi por isso que um dia foram para um monte perto de Évora e redescobriram a resposta que este filme dá à mais nocturna das perguntas: “Um gajo tem que fazer qualquer coisa, “
Todos os anos, com um seu compadre, sai de Lisboa por uns dias, sem destino definido, para olhar o que ainda de muito lhe falta ver do Portugal desconhecido. Mas, acima de tudo, em busca de comidas bebidas, cheiros, sabores novos: Objectivo Burma.
Como nem sequer tem carta de condução, está nas mãos do compadre e a primeira paragem nunca é revelada. Em pleno auto estrada deu para perceber que o destino seria Sangalhos, onde come o leitão assado que, até hoje, melhor lhe sabe, reco na idade exigida, pele estaladiça, “Murganheira” bem gelado. Mas de repente há uma viragem de percurso que nada tem a ver com Sangalhos. O compadre sorria, ele olhava a paisagem que corria e de repente vê-se a chegar, por um maravilhosos tapete de estrada, a Fajão.
Acontecera, há uns meses, que falara numa roda de amigos na intenção de passar por Fajão e arredores. O compadre ouviu e não entendeu que isso pressupunha outros envolvimentos. e decidiu fazer-lhe a surpresa de um almoço em Fajao. Não quis ser deselegante – aliás, o compadre não tinha culpa alguma – mas ficou pior que estragado.
Mas o que não tem remédio, remediado está, afivelou uma cara simpática e entrou, feliz, em Fajão, encontrando o couval que ontem lhe serviu de adivinha para um resposta certa que sabia acontecer.
Há uns bons dez anos que não ia a Fajão e, sem exagerar, entende que aquela, de modo algum, foi a terra que então conheceu. Por vezes imaginamos os sítios onde gostaríamos de ser felizes. Existem? Existem mesmo e Fajão prova-o: uma serenidade que inventa pele de galinha, o olhar a brancura da igreja e um belo relógio nos mostra as horas que são. O tempo de ser feliz. Não se ouvem carros, não se ouvem motorizadas, apenas passarada a cantar entre árvores e campos, tempo de voltar a
acreditar na vida, a sentir um olhar puro que já há muito não o visitava e que o remete para a ternura, a nostalgia da infância.
Não tem puto de jeito para narrações turísticas. Apenas gosta de sentir, olhar, guardar para memória futura. Mas se jeito tivesse, neste blogue, isso seria uma perfeita perda de tempo, um disparate. Porque não há melhor narrador do que aquele que nasce na terra e a ama - o Carlos nasceu e vive em Fajão.
Há dias disseram-lhe que na maior parte das vezes essa coisa de procurar no blogue, funciona mesmo. A pouco e pouco ele vai chegando lá, caríssima T. Pois, leitores amáveis, gente bonita dos “Dias Que Voam”: ao cimo, no lado esquerdo, escrevam “Fajão” e aguardem a chegada de maravilhosos textos e histórias sobre Fajão, deixados pelo Carlos e que se transformam num convite, irrecusável, para pegarem nas tamanquinhas e aportarem àquelas maravilhosas aldeias de xisto, perdidas entre serranias
Amanhã, para que nada se perca, falará do resto, falará do almoço no “Juiz de Fajão”.
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11 comentários:
Só conheço Fajão pelos depoimentos do carlos daqui no Dias. E sem nunca ter visitado penso que deverá ser um local mágico:) Vês a vantagem de pesquisar dentro do blog?
é muito bom quando vemos que aquilo que amamos é partilhado.
aquela casa à esquerda na primeira foto, era a da prima maria dos santos.
a que me recebia em fajão com um 'bom dia primo carlos'
o sino da igreja que é obrigatório tocar na passagem de ano e onde em tempos estava uma amplificação sonora que dava as horas em versão avés marias da senhora de fátima e que eu e uns primos muitas vezes cortamos os fios com alicate.
a 'cadeia' onde funcionou a câmara municipal nos poucos anos que foi concelho e onde pontificou o juiz de fajão.
a foto do verde dos campos, com uma réstia de casa, de um irmão meu.
onde também estive este fim de semana.
de facto ali, cada casa e cada pedra tem uma história.
uma foto não é apenas uma foto.
nem uma casa apenas um edifício.
Eu, que não sou muito dado a esoterismos, afirmo que Fajão tem uma magia própria.
A aldeia da serenidade, a subida aos penedos para contemplar a serrania ao pôr do sol. O madeiro e o toque do sino na passagem de ano. O Juiz, dos almoços, da sueca, da tigelada e do licor beirão. Tudo isto bem enquadrado pelo calor dos amigos que nos recebem!
... O que me faz pensar que não vou lá há quase dois anos!
zé..
está na altura de lá voltares :)
saudades.... :D
v e z:
só é preciso mesmo combinar uma ida...
Combinar?!
desde quando é que é preciso combinar? é preciso é IR!
Isso é que era!!
Trato já de arranjar parceiro para a sueca!!
Eu já lá fiz uma passagem de ano, por sinal alojada na antiga cadeia. Uma aldeia lindíssima e mto bem conservada. Curioso é descobrir que uma bisavó lá nasceu no séc. XIX.
Adorei o seu blog
Ana Domingos
ana,
provavelmente ainda seremos primos muito afastados....
:)
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