Anotado às 14:26:
"Por ela nunca penei, três anos de amor as penas como por Joan Fontaine, gaivota loura aqui pousada noutras semanas. Como ela nunca andei aos beijos e bofetadas como com Maureen, Maureen O´Hara. Também nunca ela me pegou ao colo, como as garças de Hitchcock, para me pôr em sossego entre as águas, de longe me velando, com os olhos semicerrados, entre o fumo de um cigarro. Mas se não fosse ela, nunca tinha visitado essas grutas mágicas onde as flores do mal são sombras letárgicas.
Naquele tempo não havia Liberdade mas havia ainda, a avenida que se chama assim. Naquele tempo o Hotel Vitória vivia na clandestinidade, mas o Tivoli ainda não tinha mergulhado nele. E foi no Tivoli, naquele tempo - o mesmo tempo de Joan Fontaine, o mesmo tempo de Maureen O´Hara - que eu conheci Gene Tierney, mulher patchuli, de um tempo em que ainda nem sequer se sabia o que patchuli fosse."
João Bénard da Costa, in Muito lá de casa, Assírio e Alvim, 1993
3 comentários:
Fui completamente apanhada de surpresa, pois ainda não há muito tempo o vi na pastelaria Tirol ou a passear pelas ruas de Sintra (eu sei que é um lugar-comum dizer estas coisas, mas repito-as sempre que alguém nos deixa, como se não bastasse uma fracção de segundo)...
Foram mais as vezes que discordou das escolhas de João Bénard da Costa do que as que concordou. Mas foi um imprescindível. Divertia-se imenso com as suas crónicas, mesmo aquelas a dar para o chato. Este ano, por Setembro, já não falará da Arrábida. Lembrar-se-á disso. Há-se sempre recordá-lo a comer uma cabeça de peixe no “Faz Frio”, nas “Recordações da Casa Amarela” do João César Monteiro. Quando logo se encontrarem de novo, os dois mandar-se-ão a uma cigarrada. Porque tal como ele disse: um homem só precisa de um café e de uma boa cigarrada.
Obrigado, T., pela lembrança.
Este é um postal sem selo fora do habitual. Uma homenagem ao João Bénard da Costa e a um dos filmes da sua vida.
Tens razão. Faltava o selo e a palavra dele.
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