21 de maio de 2009

COMEÇOS DE LIVROS

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Começo de "Voo Nocturno" de Antoine Saint-Exupery:

”As colinas por baixo do avião cavavam já a sua esteira de sombra no
ouro do fim da tarde. As planícies tornavam-se luminosas, mas duma luz
sem préstimo: neste país nunca acabam de largar ouro, tal como depois
do Inverno nunca acabam de largar neve.
E o piloto Fabien, que trazia do extremo sul para Buenos Aires o
correio da Patagónia, reconhecia a aproximação da noite pelos mesmos
sinais que as águas dum porto: por aquela calma, por aquelas ténues
rugas quase imperceptíveis que nuvens tranquilas desenhavam. Entrava
numa barra imensa e bem-aventurada. Também poderia julgar estar a dar
naquela calma um passeio lento, quase como um pastor. Os pastores da
Patagónia andam, sem se apressarem, de rebanho em rebanho: ele ia de
cidade em cidade, era o pastor das cidadezinhas. De duas em duas horas
encontrava-as, a beber à beira-rio ou a retouçar na planície.
Algumas vezes, ao fim de cem quilómetros de estepes mais desabitadas
que o mar, cruzava-se com uma quinta perdida e que parecia levar para
trás, numa ondulação de pradarias, a sua carga de vidas humanas; então
saudava com as asas esse navio?”

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